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O que nos ensina o futebol sobre comunicação? Helena Costa

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Dizem que há três linguagens universais: a música, a matemática e o desporto. No desporto, o futebol destaca-se como a língua franca mais consensual. É um idioma que todos parecemos entender, independentemente da idade, do género ou da geografia.

São 11 jogadores contra outros 11. Um campo, uma bola, e tudo o que fazem parece ser compreendido por todas as pessoas. De José Mourinho ao adepto mais comum na bancada ou em casa. Todos sabemos quando era penálti. Todos vemos a genialidade de um passe ou sentimos que o falhanço podia ter sido o nosso, mesmo que só joguemos no sofá.

Mas o futebol é um paradoxo de comunicação: da simplicidade absoluta de “marcar um golo” à complexidade tática de uma equipa que joga rápido, bem e em harmonia.

O futebol também é emoção. Hoje, o treinador é o melhor do mundo. Amanhã, devia ser despedido sem pestanejar. E tudo depende de uma coisa tão simples como a bola entrar ou não entrar.

Mas será que o futebol é só isso? Emoções e golos? Para entendermos melhor a linguagem deste jogo universal, convidei uma das melhores treinadoras portuguesas de futebol: Helena Costa. Atualmente, Helena aparece nos grandes estádios da Europa, explicando-nos os jogos como poucos conseguem — de forma simples, acessível e direta, que até eu consigo entender.

Helena Costa tem no currículo momentos extraordinários. Participou na formação de talentos de elite, como Bernardo Silva, quando treinava nas escolinhas do Benfica. Aceitou o desafio de ir ao Qatar para criar, do zero, uma seleção nacional feminina. E foi até ao Irão, um país onde a cultura e a condição feminina levantam barreiras que poucos ousam enfrentar.

Esta conversa é sobre a comunicação no desporto de alta competição. Mas também é sobre talento, liderança e a melhoria constante do desempenho.

A nossa convidada não é apenas treinadora e comentadora desportiva. Ela é também scout, ou seja, ‘olheira’ de talentos. Helena tem o olhar treinado para identificar o que separa um bom jovem jogador de alguém que, um dia, vestirá a camisola da seleção nacional. E spoiler: não é só a técnica que conta. É também a rapidez de pensamento, a leitura tática e a capacidade de ver o jogo como um todo — a sua equipa, o adversário e o momento certo para agir.

No entanto, mesmo os craques, ou talvez especialmente eles, nem sempre lidam bem com as críticas dos treinadores. Porque, no futebol, o talento só é suficiente quando é acompanhado de resiliência, disciplina e a vontade de melhorar.

E é aqui que entra a comunicação. É através dela que treinadores e jogadores se afinam, que talentos se desenvolvem e que equipas se tornam campeãs.

Esta pode parecer uma conversa sobre futebol, mas é muito mais do que isso. É sobre liderança, sobre ultrapassar limites e, acima de tudo, sobre a condição humana.

TEMPOS E TEMAS

[00:00] Introdução ao Podcast
Título: Boas-vindas e Introdução ao Tema
Resumo: O apresentador dá as boas-vindas aos ouvintes e introduz o tema do episódio, que explora a comunicação no futebol, destacando a universalidade do desporto e a complexidade da comunicação envolvida.

[00:35] Apresentação da Convidada
Título: Apresentação de Helena Costa

Resumo: O apresentador apresenta Helena Costa, uma treinadora e comentadora desportiva de renome, mencionando a sua experiência em treinar jovens talentos e a sua atuação em diferentes países, incluindo Qatar e Irão.

[01:35] Comunicação e Emoções no Futebol
Título: A Complexidade da Comunicação no Futebol
Resumo: Discussão sobre como o futebol é um paradoxo de emoções e comunicação, onde a simplicidade de marcar um golo contrasta com a complexidade tática do jogo.

[02:53] O Papel do Treinador e do Scout
Título: A Missão de Identificar Talentos
Resumo: Helena fala sobre a importância da comunicação na formação de jogadores e como ela visa identificar talentos que podem se destacar no futebol.

[04:09] Desafios de Ser Mulher no Futebol
Título: Desafios de Ser Treinadora
Resumo: Helena discute as dificuldades que enfrenta como mulher num ambiente predominantemente masculino e a importância da competência no seu trabalho.

[05:24] A Influência dos Resultados no Futebol
Título: A Pressão dos Resultados
Resumo: Conversa sobre como os resultados impactam a carreira dos treinadores e a dinâmica dos clubes, além da relação entre treinadores e direções desportivas.

[07:58] A Comunicação no Treino
Título: A Importância da Comunicação no Treino
Resumo: Helena fala sobre como a comunicação varia entre diferentes faixas etárias e géneros, e a necessidade de adaptar a abordagem conforme o público.

[10:04] Gestão de Conflitos no Balneário
Título: Gerindo Tensão no Balneário
Resumo: Discussão sobre como lidar com a tensão entre jogadores mais jovens e experientes, e a importância da meritocracia no futebol.

[12:32] O Olhar do Scout
Título: O Que Procura um Scout
Resumo: Helena explica o que considera talento num jogador e como a capacidade de pensar o jogo à frente dos outros é crucial.

[14:50] Desenvolvimento de Jovens Talentos
Título: Trabalhando com Jovens Jogadores
Resumo: Conversa sobre como desenvolver jovens talentos, focando na importância do feedback e do entendimento do jogo.

[18:00] Lidar com a Frustração
Título: A Importância da Resiliência
Resumo: Helena discute como a resiliência e a capacidade de lidar com críticas são essenciais para o sucesso de jogadores talentosos.

[19:50] Comunicação Direta com Jogadores
Título: A Comunicação Direta e Justa
Resumo: A importância de ser claro e direto na comunicação com os jogadores, adaptando a abordagem a cada indivíduo.

[22:00] Desafios de Treinar no Irão
Título: Superando Barreiras Culturais
Resumo: Helena compartilha as suas experiências de treinar no Irão, incluindo as dificuldades de comunicação e a adaptação cultural.

[25:07] A Paixão pelo Futebol no Irão
Título: A Cultura do Futebol no Irão
Resumo: Discussão sobre a paixão pelo futebol no Irão e como isso impacta o desenvolvimento do desporto no país.

[27:40] Comunicação em Estádios Cheios
Título: Desafios da Comunicação em Jogos
Resumo: Helena fala sobre as dificuldades de se comunicar com jogadores em estádios cheios e a importância da comunicação não verbal.

[28:50] O Papel dos Líderes em Campo
Título: Definindo Líderes no Futebol
Resumo: Discussão sobre as características que definem um líder dentro de campo e a importância da personalidade.

[30:00] Lidar com Jogadores Estrelas
Título: Gerindo Jogadores Estrelas
Resumo: Helena compartilha a sua experiência em lidar com jogadores que têm um status elevado e como a liderança é crucial nesse contexto.

[32:00] A Criação do Futebol Feminino no Qatar
Título: Desafios de Criar uma Seleção Feminina
Resumo: Helena fala sobre a experiência de criar uma seleção feminina do zero no Qatar e os desafios enfrentados.

[36:00] A Importância da Empatia
Título: A Empatia na Liderança
Resumo: A importância de criar um ambiente empático e próximo para motivar e desenvolver jogadoras.

[39:00] A Comunicação na Televisão
Título: A Experiência como Comentadora
Resumo: Helena discute a sua experiência como comentadora de futebol e a importância de comunicar de forma acessível para todos os públicos.

[42:00] O Futuro do Futebol Feminino
Título: Expectativas para o Futebol Feminino
Resumo: Conversa sobre o crescimento do futebol feminino e as expectativas para o futuro, incluindo a possibilidade de sucesso em campeonatos mundiais.

[44:00] Conclusão e Reflexões Finais
Título: Reflexões sobre o Futebol e a Comunicação
Resumo: O apresentador encerra o episódio refletindo sobre as lições aprendidas com a conversa, destacando a importância da comunicação e da conexão humana no desporto.

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Transcrito Automaticamente Com Podsqueeze

JORGE CORREIA 00:00:12 Ora viva! Bem vindos ao Pergunta Simples o vosso Podcasts sobre comunicação, onde exploramos como nos ligamos uns aos outros através das palavras e das acções? Dizem que no mundo há três linguagens universais a música, a matemática e o desporto. E dentro do desporto, o futebol destaca se como a língua franca mais consensual e um idioma que todos parecemos entender, independentemente da idade, do género ou da geografia. São 11 jogadores contra O111 campo, uma bola e tudo o que fazem parece ser compreendido por toda a gente. Do José Mourinho ao adepto mais comum da bancada ou em casa, todos sabemos quando era penálti e quando vemos a genialidade de um passe ou o golo, ou sentimos que o falhanço podia ter sido o nosso. Mesmo que só joguemos no sofá. Mas o futebol é um paradoxo de comunicação, da simplicidade absoluta de marcar um golo. A complexidade táctica de uma equipa que joga rápido, bem e em harmonia. O futebol é emoção cujo treinador é o melhor do mundo. Amanhã deveria ser despedido sem pestanejar. E tudo depende de uma coisa tão simples como a bola entrar ou não entrar de uma baliza.

JORGE CORREIA 00:01:35 Mas será que o futebol é só isto emoções e golos? Para entendermos melhor a linguagem deste jogo universal, convidei uma das melhores treinadoras portuguesas da atualidade Helena Costa. Atualmente, Helena Costa não é só treinadora, mas aparece também como comentadora na televisão. Aparece nos grandes estádios da Europa, explica nos os jogos como poucos conseguem de forma simples, acessível e directa. Até eu consigo entender o jogo. Helena tem no seu currículo momentos extraordinários. Ela, por exemplo, participou na formação de talentos de elite como Bernardo Silva, quando treinava nas escolinhas do Benfica. Aceitou depois o desafio de ir até o Qatar para criar do zero uma seleção nacional feminina e foi até ao Irão, o país onde a cultura e a condição feminina levantam barreiras que poucos ousam enfrentar. Esta conversa é sobre comunicação no desporto de alta competição, mas também é sobre talento, liderança e melhoria constante da performance. A nossa convidada não é apenas uma treinadora e comentadora desportiva, ela também é scout, ou seja, olheira de talentos. A Helena tem o olhar treinado para identificar o que separa um bom jovem jogador de alguém que um dia vai vestir a camisola da seleção nacional.

JORGE CORREIA 00:02:53 E não é só a técnica que conta, é também a rapidez de pensamento, a leitura tática, a capacidade de ver o jogo como um todo, sua equipa, o adversário é o momento certo para agir. Têm por isso, como missão a Helena encontrar o próximo Cristiano Ronaldo. No entanto, mesmo os craques ou especialmente os craques, eles nem sempre lidam bem com as críticas dos treinadores, porque no futebol o talento só é suficiente quando é acompanhado de resiliência, disciplina e vontade de melhorar. E é aqui que entra a comunicação e, através dela, a comunicação que os treinadores e os jogadores se afinam, que os talentos se desenvolvem e que as equipas se tornam campeãs. Esta pode parecer uma conversa sobre futebol, mas é muito mais do que sobre futebol. É sobre liderança, sobre ultrapassar limites e sobre, acima de tudo, sobre a condição humana reduzida a um jogo que se joga entre pessoas que Viva. Helena Costa, treinadora descobridora de talentos comentadora desportiva. Agora sou teu fã de te ver a comentar, a explicar me um jogo que parece tão fácil e depois, afinal é bem mais difícil do que isso.

JORGE CORREIA 00:04:09 Nasceste em 78, começaste a treinar os miúdos das escolinhas do Benfica e depois decidiste passar por vários sítios, treinar equipas femininas, duas que tenho uma grande curiosidade no Qatar e no Irão e com um saltinho entretanto pela Europa para liderar a equipa do Clermont Foot, uma equipa profissional de futebol. É mais difícil ser mulher do que homem nestas coisas de treinar a bola.

HELENA COSTA 00:04:39 Boa tarde. Primeiro que tudo e obrigada pelo convite e pelos elogios. É mais difícil num mundo profissional quando se fala de profissional de futebol masculino. Sim, não vou esconder que que é mais difícil, mais difícil ter acesso, é mais difícil perdoar, mas depois eu penso que tal e qual como em todos os trabalhos, depende da competência. E sendo homem ou mulher, aquilo que é avaliado é o trabalho. Claro que o lidar no dia a dia tem que ser algo, lidar com muitos homens, lidar tem que ser algo natural e respeitoso. Mas isso eu penso que será no futebol, como na indústria farmacêutica, ou aqui na rádio ou na televisão.

HELENA COSTA 00:05:22 Portanto, faz parte da nossa sociedade.

JORGE CORREIA 00:05:24 Eu tenho uma curiosidade que é um treinador, mesmo que seja absolutamente competente, que esteja a fazer a coisa que é certa. Depois, depende desse estranho fenómeno do raio da bola entrar ou entrar na rede abanar.

HELENA COSTA 00:05:39 Sim, na maioria das vezes, atenção, porque começa a haver também já dirigentes com outra mentalidade e obviamente toda a gente depende de resultados e quanto mais resultados houver, mais o clube progride, mais jogadores se vendem. Aquilo é uma bola de neve, não é? Hoje em dia o futebol é muito mais económico do que era há uns tempos atrás. Já não há o amor à camisola, só não é e portanto pode.

JORGE CORREIA 00:05:59 Haver ao sr. Treinador que tem aqui este jogador que eu comprei aqui por 10 milhões e agora temos que o fazer render.

HELENA COSTA 00:06:05 Sim, pode haver, mas normalmente o que acontece agora é os 10 milhões são investidos já com uma perspetiva também que integre o próprio treinador a todo o tipo de projetos, a projetos em que há uma direcção desportiva que impõe a ideia do clube e, portanto, o treinador integra se ali.

HELENA COSTA 00:06:23 Mas os jogadores são comprados pela direcção desportiva. Mas na maioria.

JORGE CORREIA 00:06:26 Eu é outro e outro. Como e como é que isto funciona? Normalmente os clubes têm um presidente da direcção de finanças, um dono do clube também, exatamente importante, que está lá na bancada. Estou a pensar mesmo muito no futuro, no futebol inglês. Depois pode haver um director desportivo. Estou a pensar no Hugo Viana, eventualmente, que me lembro logo e lá dentro está um treinador. Então o treinador decide o que.

HELENA COSTA 00:06:50 O treinador decide tudo no dia a dia da equipa. Depois, o que decide para além do dia a dia da equipa já depende da forma como os clubes se estruturam. E era isso que eu estava a explicar. Há uns que dependem muito da vontade do dono, imaginando que um clube tem um dono, o dinheiro é do dono e, portanto, se fosse o meu dinheiro, eu também queria ter uma parte da decisão. Escolher a pessoa certa para o manejar e, a partir daí, pode explicar. Se o treinador estar claramente inserido na decisão da compra de um jogador, por exemplo.

HELENA COSTA 00:07:21 E acho que faz mais sentido integrar toda a gente, porque, no fundo, é o treinador que o vai ou desenvolver, ou colocá lo a jogar ou etc. Potencial. Ou então o treinador é simplesmente um inquisidor da ideia, da ideia, do clube que se integra ali e que ajuda a desenvolver, mas que não decide. Depende muito das estruturas, mas o dia a dia da equipa. E não estou a pensar no futebol inglês, em que o treinador é mais manager e muito mais líder nas outras áreas todas do clube. Em Portugal. O treinador é isso. A gestão do dia a dia da equipa. Vamos pensar de uma forma um bocadinho mais rotulada.

JORGE CORREIA 00:07:58 Olha o que é que. Como é que tu vês esta função da comunicação precisamente nesta máquina tão complexa que o futebol se tornou no dia de hoje? Como é que? Como é que tu usaste as ferramentas? Que ferramentas é que tu precisaste? Quando tu quando disseram assim Olha, agora vais aqui treinar as escolinhas do Benfica. Podemos começar por.

HELENA COSTA 00:08:19 Coisas tão diferentes. Começar com meninos, não é? Foram coisas muito diferentes. Se eu pensar nessa nessa minha fase da vida, porque eu também era uma miúda. Nessa altura eu estava no primeiro ano da faculdade a terminá lo quando isto surgiu. E portanto, era uma miúda, basicamente. Ainda no outro dia me reuni com alguns deles, que agora já são homens também e eles próprios descobriram a minha idade nessa altura e ficaram chocados e até me disseram meio a brincar se eu soubesse não tinha respeitado. Quer dizer, tu tinhas quase a idade que eu tenho agora. Como é que é possível? Foi engraçado isso, não? Mas nessa altura era o aprender a adaptar a comunicação para miúdos, porque é totalmente diferente ainda hoje. E não é. Independentemente da minha idade, o comunicar com miúdos é diferente de comunicar com adolescentes e é diferente de comunicar com seniors. E mesmo assim eu posso dizer que comunicar com homens é diferente de comunicar com mulheres no treino. Então o treino e o treino, aquilo, a explicação do exercício é exactamente igual o conteúdo, etc.

HELENA COSTA 00:09:21 O que eu notei e acredito que possa ser diferente nesta altura, até porque as miúdas começam a ter agora um processo de formação, mas na altura e podemos dar o exemplo da Dolores, da própria Filipa Patão, que agora está está na Vogue e toda a gente percebeu que quem é? Eram miúdas que estavam integradas, que eu as integrei na primeira equipa, por exemplo, do primeiro Dezembro, conta com jogadoras de 29 anos, as Carlas Cuts, as edits e.

JORGE CORREIA 00:09:50 Elas tinham.

HELENA COSTA 00:09:51 14 a Edit 14. A Dolores, perdão, é a Filipa tinha 16 ou 17.

JORGE CORREIA 00:09:56 Por acaso tem duas adolescentes.

HELENA COSTA 00:09:58 Claramente 13, até com talento, com talento e.

JORGE CORREIA 00:10:02 Colocastes numa equipa sénior.

HELENA COSTA 00:10:04 Nas férias. Isto era assim no futebol feminino há muito tempo e o.

JORGE CORREIA 00:10:08 Efeito disso.

HELENA COSTA 00:10:10 A Dolores passou a titular Claramente. A Filipa teve as suas oportunidades passo a passo e mesmo a Solange, que ainda não falámos, também tinha as suas oportunidades. Mas a Dolores claramente passou a titular, talvez na posição onde lhe era possível na altura porque a equipa era campeã.

HELENA COSTA 00:10:27 Mas entretanto perdemo nos por uma questão de comunicação. Elas não tendo esse processo de formação, eram muito curiosas. Não é o questionar a treinadora porque é que se faz isto e qual é o sentido no jogo? O quererem perceber a ideia do jogo, quererem perceber o porquê do exercício enquadrado no jogo e se faz parte de um treinador. Os homens ou os rapazes. E eu tive experiência até num clube que eu considero onde o processo de formação existe e a cultura do jogador é grande. É para fazer e para fazer. Não se questionava.

JORGE CORREIA 00:11:03 São pragmáticos? São mais, São mais diretos.

HELENA COSTA 00:11:05 Têm o tal, a tal base de formação. Não é que.

JORGE CORREIA 00:11:08 É tudo igual à partida para todos.

HELENA COSTA 00:11:10 Agora, mas elas antes não tinham e portanto, a curiosidade táctica era algo que lhe estava muito inserida.

JORGE CORREIA 00:11:17 Quer dizer, calma, há linguagens diferentes quando quando tu vens de processos formativos diferentes, há uma língua.

HELENA COSTA 00:11:24 Eu notei isso, acredito. E era o que estava a dizer. Agora elas já conseguem ter um processo de formação e acredito que dentro em breve a curiosidade vai ser menor, porque já percebem o jogo de outra maneira.

HELENA COSTA 00:11:34 Já tiveram o tal aquisição de conhecimento.

JORGE CORREIA 00:11:37 Olha, tu estás a falar de uma coisa curiosa que é pegar em gente nova, com talento, colocar numa equipa sénior. Isso não gera uns os amuos em relação às aquelas que provavelmente podem perder o lugar. Faz parte. Ai, como é que tu gere? Como é que se gere essa tensão dentro de um balneário?

HELENA COSTA 00:11:54 Eu acho que há coisas que são naturalmente aceites porque são visíveis. Se aparece alguém que é melhor, embora seja o mais novo, o cartão de cidadão não garante o lugar. Não é, à partida, o garante lugar é competência, talento, a capacidade de ter a performance.

JORGE CORREIA 00:12:11 Isso vê se.

HELENA COSTA 00:12:13 Claramente.

JORGE CORREIA 00:12:14 O que é que tu procuras? Tu ainda por cima és scouting, portanto, tu, tu tens. Tens a tarefa de encontrar o próximo Cristiano Ronaldo, não é? Não sinto essa pressão, mas de encontrar o que é que o que é que um olheiro, o que é que um treinador? O que é que um observador como tu és procura ouvir? O que é que tu vês que não vejo?

HELENA COSTA 00:12:32 Isto dava me uma conversa.

HELENA COSTA 00:12:34 Quantas horas é que temos? E muito. Também tem uma parte muito intuitiva. Nós estamos a pouco a falar de ideias, de clube e projetos do clube. Depende muito do que procuramos. Vou dar um exemplo Eu já trabalhei no Celtic, já trabalhei no entrar em Frankfurt, no Watford, mas se eu trabalhasse para um clube português, eu não iria procurar exactamente as mesmas coisas que estava à procura nestes clubes. Então porque o futebol português é diferente do futebol alemão Em muita coisa. É muito diferente do inglês. Agora, talento é talento, é talento e talento. Em qualquer parte do mundo há uns que se adaptam mais a uma ideia de jogo e a outros que se adaptam menos. O que é que eu procuro e o talento que é isso que traz dinheiro?

JORGE CORREIA 00:13:17 Vamos lá ver. Mas aquilo que eu consigo perceber do jogo, alguém que remate à baliza com força e colocação e marca golos, em princípio é talentoso. Isso é.

HELENA COSTA 00:13:26 Talento. E é dos mais caros, muito mais caros.

JORGE CORREIA 00:13:28 Temos até por já uma etiqueta.

JORGE CORREIA 00:13:29 Sim, sim.

HELENA COSTA 00:13:29 Os avançados são sempre os mais.

JORGE CORREIA 00:13:31 Seja o número de golos.

HELENA COSTA 00:13:32 Mais valorizados.

JORGE CORREIA 00:13:33 Mais valorizados.

HELENA COSTA 00:13:34 Os que marcam isso marcam.

JORGE CORREIA 00:13:36 Aqueles que estão lá Quase, Se calhar não. Depois também é para mim talento alguém que consegue fazer passes. Estou sempre a imaginar passes a 30 metros ou 40 metros que parece que pegou com a bola na mão e lá colocou. É e é. E é um jogador formidável. Ou então que faz magníficos.

HELENA COSTA 00:13:54 Para mim, um grande talento é aquele que pensa o jogo à frente dos outros. Aquele que consegue, tem uma tomada de decisão impecável.

JORGE CORREIA 00:14:04 Pensa mais rápido, pensa melhor.

HELENA COSTA 00:14:07 Mais rápido e melhor. São dois, dois conceitos que se associam à tomada de decisão, isto é, que consegue ter uma qualidade técnica que acompanhe essa forma de ler o jogo. Portanto, não.

JORGE CORREIA 00:14:17 Adianta só só vislumbrar depois, também é preciso discutir.

HELENA COSTA 00:14:20 Posso ler muito bem o jogo, mas o Messi chega a aquilo como eu e coloca. Faz tudo o que quer, não é? Portanto, as várias coisas associadas é o ideal.

HELENA COSTA 00:14:28 O ideal é aquela máquina completa, que é o que pensa bem e rápido. Decide, portanto, bem o que tem a técnica que acompanhe essa decisão e passe pelo lado físico que ainda acompanha. Há quem valorize mais o lado físico e há muitos campeonatos em que isso é hiper valorizado e, portanto, os pequeninos que pensam muito rápido porque toda a vida foram sempre mais pequeninos e para se.

JORGE CORREIA 00:14:50 Levam com os grandes em cima, não é.

HELENA COSTA 00:14:52 Para evitarem esse confronto físico, desenvolveram outras capacidades intelectuais que hoje em dia são uma grande arma.

JORGE CORREIA 00:14:59 É isso que explica os Bernardos Silva da vida.

HELENA COSTA 00:15:01 Totalmente, totalmente o Bernardo. Eu treinei o Bernardo.

JORGE CORREIA 00:15:04 Ah, então.

HELENA COSTA 00:15:05 O Bernardo era assim, o Bernardo era assim. E quando eu digo isto às pessoas, não é bem assim. Era assim. O Bernardo era assim a decidir a técnica. Obviamente que ele evoluiu muita coisa no entendimento do jogo, mas aquilo que vinha do Bernardo Inato era. Era isto que nós vemos e esta forma de estar na vida também muito simples.

HELENA COSTA 00:15:25 Era ele, claro, tem um contexto familiar que proporciona, mas a inteligência, a capacidade técnica, até a forma de correr, tudo igual, tudo igual. E isto vê se aos sete pessoas, oito E as pessoas dizem há muita coisa que no processo de formação Sam, tu não sabes aos sete anos que o miúdo vai conseguir. É verdade, há muita coisa, mas os bons são sempre bons.

JORGE CORREIA 00:15:47 Ainda por cima, Raio do homem, ainda por cima comunica bem. Caraças, tem tudo, não é? Quando tu olhas para isto, para um jovem talento, neste caso Bernardo, e dizes Eu sou o treinador deste deste miúdo, o que é que tu procuras desenvolver? Como é que tu trabalhas?

HELENA COSTA 00:16:04 Há muita.

JORGE CORREIA 00:16:04 Coisa. O processo de feedback, por exemplo, porque aos sete anos eu imagino que o conjunto de coisas que ele faça, apesar de maravilhosas, estão carregadas de coisas que que é preciso aperfeiçoar.

HELENA COSTA 00:16:15 Sim, sobretudo o entendimento do jogo. Porque quando é a qualidade técnica, obviamente.

HELENA COSTA 00:16:21 Eu lembro, por exemplo, o Jota, que agora está no terreno, nós. Ele sempre foi um acima da média do ponto de vista técnico e ele adora fintas. Ainda hoje adora fintas e provavelmente teve muitos treinadores que foram castrando nesse nessa expressão. Mas é nisso que ele é bom e é para isso que ele é contratado, por exemplo, agora para o Reino. E foi nisso que ele sobressaiu no Celtic também. O percurso que teve no Benfica, depois ao nível sénior, isso é outra história. Mas é naquilo que ele é bom e é naquilo que ele sobressaiu sempre. E nós, meio a brincar, já a explorar um lado muito fora do normal. Dizíamos lhe Olha, no próximo treino, assim que chegar, epá, tens que fazer 1,1 tesoura, uma não sei quê. Tudo seguido. E ele lá em casa, lá, lá treinava e a primeira coisa que eu fazia era está aqui, pumba! Portanto, pequenos desafios. Agora, o que é que é o agrupar o individual no coletivo? Porque isso, para os miúdos, o desenvolvimento do pensamento abstrato é algo também muito complexo.

HELENA COSTA 00:17:20 Eles vêem o agora e o ele é o agora e o perspetivar a equipa e lá mais à frente, ler o jogo um bocadinho mais à frente é algo que temos que desenvolver. Agora as coisas inatas estão lá sempre e estão lá sempre, também no nível sénior. E isso eu acho que é muito fácil. Olhar para alguns miúdos e perceber. dificilmente não vai lá chegar. E miúdos muito novos. E depois o aspeto mental, O aspeto mental? Sim. E consegue se perceber essa.

JORGE CORREIA 00:17:47 Teimosia, essa e essa vontade.

HELENA COSTA 00:17:49 Persistência e persistência.

JORGE CORREIA 00:17:51 O sobreviver à frustração porque lá está um miúdo muito talentoso.

HELENA COSTA 00:17:55 O Bernardo.

JORGE CORREIA 00:17:56 O Bernardo.

HELENA COSTA 00:17:56 O Bernardo não jogava a titular nos sub15, sub16, sub17.

JORGE CORREIA 00:18:00 E não ficava frustrado.

HELENA COSTA 00:18:02 Claro que ficava o Bernardo e o Ricardo Horta. Claro que ficava. Mas a persistência e o acompanhamento que algumas pessoas deram. O Bernardo já falou disso várias vezes, até a importância que o Chalana teve nesse processo. Mas alguns desistem e outros têm quem os acompanhe.

JORGE CORREIA 00:18:18 Lá está essa ideia.

JORGE CORREIA 00:18:19 O Chalana fá los bem, Quer. Confio em ti, miúdo. Tu tens, tens um talento como eu. Lá está. É quase uma irmandade. Tu é o papel dos pais. Não, eu não.

HELENA COSTA 00:18:28 Vou envolver os pais porque há uns que põe impressão. No caso do Bernardo, não punham pressão nenhuma. São pessoas com com tudo no sítio. Aí o.

JORGE CORREIA 00:18:36 Segredo também não.

HELENA COSTA 00:18:37 É? Sim, era o que eu estava a dizer há pouco. O envolvimento que os jogadores têm auxilia muito depois a superar as dificuldades. Mas ainda bem que há dificuldades no percurso deles de formação, porque não pode ser tudo perfeito.

JORGE CORREIA 00:18:50 Olha como é que tu lidas com jogadores que evitam a comunicação direta? Porque eu quero imaginar. Estou a ouvir te agora aqui e estou a pensar Esta treinadora deve ser daquelas que diz tudo o que tem para dizer aos.

HELENA COSTA 00:19:03 Não é só a treinadora, é a pessoa, sim a pessoa e sobretudo a Chief Scouts. É porque isto é tudo muito bonito, mas é a tomada de decisão que envolvem milhões.

HELENA COSTA 00:19:16 Têm que ser muito claras e comprar um jogador envolve muitos milhões. Como é que.

JORGE CORREIA 00:19:20 Se diz que não?

HELENA COSTA 00:19:22 Justificando o porquê? Não é dizer que não, Só porque não é justo dar as minhas razões e eu posso estar errada. Naturalmente que já errei, já acertei muitos outros também, Mas é dar as minhas opções e o porquê. Mas é dizer tudo na cara e eu acho que não há forma mais natural de liderança do que ser justo e frontal. Quem não gosta? Paciência.

JORGE CORREIA 00:19:45 E todos os e todos os jogadores recebiam da mesma maneira?

HELENA COSTA 00:19:50 Não. Cada pessoa é uma pessoa. Isso tratar todos por igual. Isso para mim não faz sentido. Há, claro, comportamentos que o treinador tem que ter em grupo. E quem disse? Eu volto a dizer quem diz o treinador, diz o director desportivo, é um bocadinho a parte nesse sentido, porque não há um contacto directo com a equipa. Mas mas a com um board, com uma direcção, com o dono e portanto cada pessoa é uma pessoa.

HELENA COSTA 00:20:16 E eu posso estar a falar contigo agora. Se estivesse aqui, a produtora provavelmente teria que dizer a mesma coisa de outra maneira. Tinha que me. Não é manipular o discurso, mas é adaptar. E cada pessoa é uma pessoa. Há pessoas mais sensíveis, há pessoas mais ou menos sensíveis. Não se pode tratar toda a gente da mesma maneira. E isto é como na vida, eu acho.

JORGE CORREIA 00:20:36 E há uns jogadores que reagem mais a uma crítica direta ou a um estímulo e outros que são mais.

HELENA COSTA 00:20:42 Sim, uns que ficam mais nervosos, mais vulneráveis, mais são mais sensíveis. Há outros que são mais frios a outros que estão habituados a uns que já têm mais experiência, também levam isso de outra maneira. Há os que a tal Dolores, que entra com 14 aninhos, não posso falar para a Dolores como falava com a Carla Couto, por exemplo, mas são pequenos pormenores. Agora há regras que são regras de grupo e há comunicações que são a comunicação do grupo. Isso é sim e por igual.

HELENA COSTA 00:21:12 Mas cada indivíduo é um indivíduo. E como.

JORGE CORREIA 00:21:13 É que? Como é que se molda? O que é que é a pressão para a performance? Por um lado, a formação, por outro. E depois esse desenvolvimento e esse, essa, essa comunicação com com cada um dos miúdos ou dos atletas depois mais crescidos.

HELENA COSTA 00:21:28 Eu acho que isso faz com que com o dia a dia, vai com o dia a dia, com o conhecimento de cada um, com Um. Muita interpretação de alguns sinais. Em Off the record falamos já da comunicação não verbal e eu acho que para mim algo não é só na relação treinador jogador. É também tudo. E eu tendo vivido no estrangeiro, acho que desenvolvi isso muito, sobretudo no Qatar.

JORGE CORREIA 00:21:56 Neste Irão e Qatar.

HELENA COSTA 00:21:57 Qatar primeiro e depois irão.

JORGE CORREIA 00:21:59 Culturas completamente diferentes.

HELENA COSTA 00:22:00 Sim, a.

JORGE CORREIA 00:22:01 Língua é um mistério.

HELENA COSTA 00:22:03 A língua começou por ser um mistério no Qatar. Eles falam naturalmente o árabe, mas no Qatar, até fruto daquilo que é a influência norte americana e o país.

HELENA COSTA 00:22:14 A forma como se está a desenvolver praticamente todas as universidades e algumas escolas são lecionadas em inglês e, portanto, a comunicação é muito fácil por lá. A maior parte das pessoas que lá vivem são estrangeiras e o inglês é quase a língua. Não digo nativa, mas praticamente.

JORGE CORREIA 00:22:30 Os atletas.

HELENA COSTA 00:22:31 Também. Também toda a gente fala inglês. Mesmo miúda de 13 anos, era muito raro encontrar uma que não falasse inglês. Portanto foi facílimo nesse aspeto. Mas quando eu passo do Qatar para o Irão e já arranhava algumas palavras de árabe ou não falando, já conseguia interpretar muitas coisas que diziam. Eu pensei agora vou me safar um bocadinho melhor. Fui sozinha, sem equipa técnica e quando chego lá, o que eles falam em persa têm algumas palavras idênticas, mas com significados diferentes. Portanto, baralhou o sistema todo. O meu árabe não servia para nada e ninguém falava inglês, ninguém falava inglês. Só a minha time manager é que falava em inglês.

JORGE CORREIA 00:23:09 Como é que se faz isso? Como é que tu treinas uma equipa quando?

HELENA COSTA 00:23:12 Quando sei o que eu pensei não falar? Como é que eu faço isto?

JORGE CORREIA 00:23:14 Não ouvimos a mesma música, Não falamos a mesma língua.

HELENA COSTA 00:23:17 Eu não consigo explicar até hoje. Foi muito linguagem gestual, muito exemplificação de exercícios, Muito. No início ainda chamei minha TI Manager para me ajudar diretamente no treino, quase como intérprete, uma tradutora. Mas ela não percebe nada daquilo, não percebia nada de termos do treino e, portanto, era mais incomodativo do que auxílio. Por muito que ela tivesse auxiliado.

JORGE CORREIA 00:23:45 Portanto, tínhamos aqui uma outra coisa, uma outra barreira da linguagem que é tu não percebes nada deste métier. No fundo, falas a língua, mas não falas. A minha língua do futebol.

HELENA COSTA 00:23:54 Não é a minha e a língua do pessoal é universal. Sim, ela trabalhava na Federação, mas é trabalha e foi uma pessoa extraordinária, que me ajudou muitíssimo, até porque era a única com quem eu conseguia realmente comunicar também, mas super competente. Mas não era. Era da parte administrativa, era da parte mais funcional, não era do treino, não era uma linguagem do futebol e, portanto, não servia para para o meu auxílio. E tive que desenvolver outras ferramentas.

HELENA COSTA 00:24:23 E o mais engraçado é que nós acabámos por comunicar muito e já havia piadas que ele já havia uma interação com piadas, mesmo não falando absolutamente nada e elas não falando inglês. Fomos desenvolvendo e eu fui obrigada também a mais rapidamente saber os termos em persa. E a comunicação era excelente e a relação era brutal. Foi brutal.

JORGE CORREIA 00:24:48 Sabem daquelas perguntas? Aquelas palavras básicas? Lá está, chuta, remata, defende, cobre.

HELENA COSTA 00:24:54 Pressiona. Coisas desse género? Sim. E a partir daí a nossa linguagem foi, foi, foi melhorando e acabámos com piadas e com uma relação extraordinária e com vivências óptimas. Eu adorei o Irão.

JORGE CORREIA 00:25:07 Os resultados foram bons.

HELENA COSTA 00:25:08 Foram bons, mas a qualificação tivemos um azar no sorteio da qualificação para vá, vamos chamar o Europeu lá do sítio, não é o campeonato asiático. Calhou nos a Tailândia, que era um dos tubarões e só passavam uma. Portanto tivemos. Mas foi muito positivo. E eu ali não era só a selecionadora da equipa A, era também coordenadora de todas as outras seleções.

HELENA COSTA 00:25:29 Eu tinha um treino pelo menos todos os dias de qualquer seleção. Se fosse sub13, sub16, eles lá têm escalões diferentes da Europa. E foi muito interessante e sobretudo, o impacto que se pode deixar depois no país, que não foi só o Irão. Estava extremamente desenvolvido na altura, muito mais desenvolvido de Portugal. Muito, mais, muito mais mesmo.

JORGE CORREIA 00:25:49 Não tinha nada essa.

HELENA COSTA 00:25:50 Ideia, pois ninguém tinha. Mas porquê? É um talento.

JORGE CORREIA 00:25:53 Em que na na.

HELENA COSTA 00:25:55 No Nem era o conceito de treino, o conhecimento de treino não era, é muito inato. E eu noutro dia estava a falar com o António Simões, que também estava lá na altura com o Carlos Queiroz e com o Daniel Gaspar. E nós privamos e ele sentiu isso do lado masculino também, que há um talento inato.

JORGE CORREIA 00:26:14 Eles conhecem o jogo porque sim.

HELENA COSTA 00:26:16 Não, eles têm uma paixão por jogo incrível. Eu lembro me que na nossa Academia da Federação era ao lado do Estádio Nacional e, por exemplo, a final da Taça era da Taça de Clubes era jogado também no Estádio Nacional.

HELENA COSTA 00:26:31 A imagem do que acontece aqui e eles dormem à porta do estádio para ser dos primeiros a entrar. E lembro de estar a dar um treino às dez e qualquer coisa da manhã. Portanto, na academia, que era praticamente ao lado, o jogo da final da Taça ia ser às oito e tal da noite, as estradas iam ser cortadas, etc. Mas às dez e tal eu ouvia a Hola mexicana que o estádio já estava cheio. Uma coisa incrível e incrível eles vivem como ninguém. O jogo é uma paixão brutal pelo futebol, uma coisa incrível.

JORGE CORREIA 00:26:58 Olha, estavas a falar de aprender as palavras mínimas para conseguir dar alguma informação. Os jogadores ouvem alguma coisa dentro do campo, no meio de um estádio cheio de gente?

HELENA COSTA 00:27:08 Sim, no masculino é mais difícil. Quando os estádios estão cheios. No feminino não há isso muitas vezes, mas a comunicação praticamente. O treinador, não tem grande forma. Com um estádio completamente cheio de fazer a comunicação chegar no instante em que gosta. Depois faz passar por outras formas.

HELENA COSTA 00:27:25 E claro que a comunicação com os jogadores que estão mais próximos. Depois passa ou há pausas para hidratação e fala só há um, eventualmente um jogador lesionado e aproveita se. Mas no dia a dia, para um treinador com um estádio cheio, a comunicação não é fácil e há uns.

JORGE CORREIA 00:27:40 Jogadores lá dentro, normalmente naqueles 11. Há uns que fazem de treinador também lá dentro, que são o espelho do treinador.

HELENA COSTA 00:27:47 Sim, há uns com personalidade, com conhecimento, com liderança, sim, que são muito espelho.

JORGE CORREIA 00:27:54 O que é o que define um líder dentro do campo?

HELENA COSTA 00:27:58 A personalidade. Primeiro que tudo, mas sobretudo a forma como coloca a sua performance quase de forma, sem errar. Eu acho que há jogadores que são e jogadoras que são. Não digo perfeitas, mas há sempre coisas a melhorar, mas que são líderes por pelo exemplo, líderes pela personalidade. E são daquelas quando abrem a boca, depois toda a gente se cala para ouvir ou toda a gente respeita isso. São coisas muitas delas naturais, portanto, a maioria delas naturais.

JORGE CORREIA 00:28:32 E sente se dentro do balneário.

HELENA COSTA 00:28:33 Sim, sim, sim, sente. É a pergunta.

JORGE CORREIA 00:28:36 Difícil do dia. É também as vacas sagradas? Como é que é?

HELENA COSTA 00:28:39 Como assim?

JORGE CORREIA 00:28:40 Como é que. Como é que se lida com a vaca sagrada? Como é que se lida com aquele super jogador que às tantas entrou em declínio ou com aquele jogador que acha que é o dono daquilo tudo e que se calhar já está a ter um efeito. Eu vou.

HELENA COSTA 00:28:53 Eu vou cometer aqui provavelmente uma inconfidência. Eu acho que ela não me vai levar a mal. Eu vou até pegar numa jogadora que é muito conhecida em Portugal, a Carla Couto, que é provavelmente a melhor jogadora ou foi a melhor jogadora naquele tempo em que não havia o processo de formação e que agora acredito que daqui a uns tempos possamos falar de outras e já se começa a falar, felizmente. Mas a Carla, toda a gente dizia que não gostava de treinar, que que faltava muita treinos, que não era essa pessoa Do ponto de vista relacional, é extraordinária.

HELENA COSTA 00:29:27 Tem muita piada para quem a conhece, mas ela sabia que era realmente muito boa no campo e que fazia realmente a diferença. E eu, quando cheguei ao clube, toda a gente dizia isto cobras e lagartos. A verdade é que eu acho que aí também depende do treinador, não só na liderança. E aí coloco homens e mulheres. É tudo igual, não só na liderança, mas na capacidade de como é que eu hei de dizer cativar. E eu aprendi muito no Qatar relativamente a isso. Acho que houve um distanciamento muito grande entre a Helena que sai de Portugal, a Helena que chega ao Qatar e a Helena que volta a Portugal nesse sentido.

JORGE CORREIA 00:30:03 O que é que aprendeste?

HELENA COSTA 00:30:05 Aprendi coisas diferentes. Tenho que me adaptar claramente à cultura. E vou dar um exemplo. Eu no Qatar, no Qatar, e quando nasce tem logo à partida a educação paga. Tem, sei lá, água, luz paga pelo Estado. Tem tudo e mais alguma coisa. Tem os pais ricos, o miúdo quase. Quando nasce tem uma nanny, uma ama e um carro é um driver e portanto tem tudo o que querem e o que não querem é aquilo e é viver.

HELENA COSTA 00:30:42 Ou podem viver sem ter o espírito de sacrifício, porque não tem necessidade. Tem tudo, portanto tem tudo.

JORGE CORREIA 00:30:47 E aí aparece uma treinador que veio, uma treinadora que veio lá de Portugal.

HELENA COSTA 00:30:52 Sim, mas que tem que tem em contrarrelógio. O meu processo foi eu tinha que criar, criar o futebol feminino do país.

JORGE CORREIA 00:30:59 Não existia.

HELENA COSTA 00:31:00 Nada. Zero. Criar em meses, colocar a seleção no ranking FIFA em meses, porque havia a decisão do Mundial de 2022 e era obrigatório haver uma seleção feminina. Como em qualquer decisão de Mundial, haver uma seleção feminina no ranking FIFA.

JORGE CORREIA 00:31:17 Isso parece me um desafio gigantesco.

HELENA COSTA 00:31:19 Foi o pior. Não digo o trabalho mais difícil que eu tive na minha vida e duvido que tenha um tão difícil quanto este.

JORGE CORREIA 00:31:25 Onde é que encontraste as jogadoras?

HELENA COSTA 00:31:27 Eu andei a bater de porta a porta a elas pela paixão que algumas tinham pelo jogo. Criaram um torneio de futsal na faculdade. Eu soube disso. Fui.

JORGE CORREIA 00:31:37 Começaste lá a ver.

HELENA COSTA 00:31:38 Comecei lá e depois criei escola de futebol desde pequeninas, portanto criei a seleção sub13.

HELENA COSTA 00:31:46 A seleção A foi aquela mais emergente que tinha que acontecer no momento, Mas elas não conheciam o jogo, não sabiam nada, nada mesmo. O futsal delas era duas a atacar e duas a defender. Era assim que jogavam, mas divertiam se e tinham iniciativa. E eu acho que isso foi saudável e foi o que me ajudou a desenvolver o resto. Mas aí eu tive que as levar um bocadinho pelo coração, porque elas não precisam de nada. Não era o dinheiro que as faria. Como é que correr?

JORGE CORREIA 00:32:12 Como é que este desiste? O que é que lhes vendem?

HELENA COSTA 00:32:15 Por isso eu também ter mudado foi eu aproximar me delas, explicar lhes que realmente o impacto que elas poderiam ter no país e tiveram podia ser extraordinário, mas ao mesmo tempo, as famílias não queriam que elas se projetassem como pioneiras, não queriam que o nome estivesse envolvido na sendo as primeiras mulheres a jogar futebol. E aí tem muito a ver com a cultura. Não é com a religião, é com a cultura. E foi muito, muito, muito difícil.

HELENA COSTA 00:32:46 Tive que garantir que elas não eram fotografadas ou filmadas em alguns jogos para poderem representar a seleção nacional. E chegou a acontecer garantirem me a mim que isso não iria acontecer e eu chegar lá e ter câmaras. E foi o fim da macacada. Foi até capaz de sair agora um documentário sobre isso, porque nós reunimo nos no primeiro dia em que houve realmente o Mundial 2022. Estivemos a ver o nosso jogo, o nosso primeiro jogo que tem estas histórias todas. A primeira fotografia oficial tem sete jogadoras, porque quatro delas não podiam aparecer a ser fotografadas. Houve uma delas que perdeu o emprego por ter jogado. Tenho histórias incríveis. Uma que era filha do comentador mais respeitado de futebol masculino e ela estava já numa fase até mais adiantada. Ela era realmente muito boa jogadora, sobressaía das outras, jogava a avançada e ela disse me Eu vou estar em exames na faculdade e portanto eu não consigo estar todos os dias no estágio e dormir, sobretudo lá porque eu perco o meu pai não quer, eu perco ali exames e eu combinei com a equipa Okay, vamos abrir aqui uma exceção.

HELENA COSTA 00:34:00 Ela treina connosco, volta para casa, volta para a faculdade, volta a treinar connosco e no dia do jogo está connosco. Toda a gente concordou, portanto foi uma coisa aberta, quase a ajuda do público para não haver questões. Cá está quanto à liderança, diferenciação de comportamento, etc. E no dia do jogo, ela percebe que há câmeras à volta. Foi no estádio do Alçado, contra as Maldivas. As ganhámos 4 a 1 nesse jogo. E ela diz Eu não posso jogar, não pode jogar como para aí há duas horas e meia de jogo. Como assim não pode jogar? Meu pai não sonha que eu estou aqui. Portanto, ela não me tinha dito a verdade toda e estava a ser retraída em casa para não jogar. Naquela altura nós já tínhamos dado tudo à FIFA e aquilo era um jogo oficial que contava para o ranking. Não dá para.

JORGE CORREIA 00:34:47 Mudar?

HELENA COSTA 00:34:48 Dá. Mas os câmaras eram portugueses e eu conhecia os e portanto foi 1A1 pedir para ela não ser filmada. Não é fácil.

HELENA COSTA 00:34:59 Sendo avançado e ganhando 4 a 1, marcando quatro golos e fazendo uma assistência. O que acontece é que ela nunca mais jogou futebol. O pai proibiu a não de jogar futebol. Mas tenho muitas histórias destas. Tenho coisas que, sei lá, eu acho que às vezes nem é nem é imaginável na Europa que se possa passar no Irão foi o inverso de tudo. Muito desenvolvido, uma paixão tremenda, um orgulho por representar a seleção e as famílias. Ninguém rezava. E uma coisa que eu digo muitas vezes ninguém rezava. Eu, no Qatar, tive que me dar o tempo dos treinos para não coincidir com o pôr do sol, porque no por do sol também que eles fazem a última reza. Vivemos coisas muito engraçadas e eu tive na casa deles, delas a vivenciar o Ramadão quando o sol se põe. Tudo aquilo foi muito engraçado. Em equipa estivemos. Eu vivenciei isso no Irão, não tive que mudar nada, não tinha uma jogadora que.

JORGE CORREIA 00:35:56 Rezasse e as famílias apoiavam que estas miúdas.

HELENA COSTA 00:36:01 Viram aquilo e uma paixão enorme e loucura e loucura.

HELENA COSTA 00:36:07 E pelo que eu sinto continua a desenvolver se com as sanções económicas, que foi algo que não nos deixou. Nós recebemos dinheiro da FIFA e não podíamos utilizar porque não entrava sequer no país. E continua, continua por motivos políticos. Não tem nada a ver com elas. Mas também tive coisas. Eu tinha uma segurança do governo do Irão, que estava todos os dias connosco em estágio, fosse sub13, fosse sub16, fosse a seleção A e que ia connosco para fora. E o objectivo era fazer um relatório para para o Governo.

JORGE CORREIA 00:36:39 Sobre as coisas que tu fazias.

HELENA COSTA 00:36:40 Sobre o que eu fazia, sobre o comportamento delas, sobre tudo.

JORGE CORREIA 00:36:44 Tudo, portanto. Tinha a polícia secreta no fundo, e o adjunto tinha.

HELENA COSTA 00:36:48 E o mais engraçado é que depois aquilo, o ambiente era tão positivo que se fosse três, quatro vezes connosco, depois era nossa amiga e o governo sabia disso e trocava, mas depois acabava sempre por ser bem recebida e se sentir bem e trocava.

JORGE CORREIA 00:37:03 Portanto, Helena, tu vais para um país longe, Não dominas a língua.

JORGE CORREIA 00:37:09 Todavia, convences as famílias. Não falas uma palavra convence os câmaras de filmar no início, consegue se de alguma maneira conquistar o agente dos serviços secretos que lá está. Qual é o segredo?

HELENA COSTA 00:37:25 Essa é natural. Criar um bom ambiente e há pouco eu não terminei, mas acho que no Qatar cá está por ter que as levar pelo coração, por pela empatia, por criar uma proximidade gigante. Eu próprio mudei porque era uma pessoa muito mais nova do que elas todas, mesmo em Portugal e do que eles, porque também treinei uma equipa sénior masculina aqui. Era mais nova que todos e achava nessa altura que a forma como comunicava com alguma distância poderia ajudar também na liderança. E acho que agora é precisamente o contrário. É empatia e naturalidade. E é. Eu mudei por isso, por ter que as conquistar e levar pouco pelo coração. Mas depois eu também acho que sou muito assim e portanto, não é ser eu própria. Olha como.

JORGE CORREIA 00:38:15 É que se conquista o jogador tuga.

HELENA COSTA 00:38:18 Como outro, como outro.

JORGE CORREIA 00:38:19 Qualquer.

HELENA COSTA 00:38:20 Sim, cá está dizendo a verdade. Auxiliando com. Com feedbacks que são úteis. Sendo justo. Depende do papel. Pode se criar uma grande proximidade sendo Chief Scout ou assistente do diretor técnico, como foi no Watford, e criei muita proximidade com os jogadores no sentido de realmente ser ouvida, auxiliar em alguns conselhos, porque percebia a ideia do treinador e que estava ali uma certa distância, que um passo que fosse poderia auxiliá lo a ele e ajudava a equipa. Pequenas coisas, mas sendo justa, sendo também concisa nos comportamentos e sendo eu próprio.

JORGE CORREIA 00:39:00 Há bocadinho falavas dos dos Catar e que nascem, no fundo com contudo, com o mundo aos seus pés um bocadinho. Os jogadores profissionais em Portugal, no mundo, na Europa são um bocadinho assim. Quer dizer, a partir dos 16, 17, 18 anos começam a ganhar rios de dinheiro. Têm grandes opções? Sim. Não, não é um mito.

HELENA COSTA 00:39:19 Depende das sessões. Sim, claro.

JORGE CORREIA 00:39:21 Os jogadores de topo topo todo que esses sim.

HELENA COSTA 00:39:24 Esse sim, Os outros não ganham estudo e têm que dar a perna entre aspas para se manter num nível alto. O problema é pensar se que por estar no Benfica, Sporting Porto Sub19 sub 23 já já é garantido que se vai ser profissional. E não é assim. Há um degrau.

JORGE CORREIA 00:39:43 Muito grande de entre esses sub19 e a equipa profissional.

HELENA COSTA 00:39:47 Nesses grandes clubes. Sim, é provavelmente a saída mais simples para esses jogadores. Há de ser outros clubes de primeira divisão, segunda divisão, mas outros clubes que não os três grandes ou os quatro grandes, os cinco que se queira considerar. Há um degrau grande e.

JORGE CORREIA 00:40:01 Quando vejo clubes ingleses, vejo muitas vezes os treinadores a irem buscar jogadores de 16, 17 anos e a dar ali oportunidades em minutos. Eles também têm muitos jogos. Cá parece me menos bom, Em bom rigor, se olhar agora para aqui, para o Porto, Benfica, Sporting já já começa a acontecer?

HELENA COSTA 00:40:16 Não. Cá em Portugal é o contrário.

JORGE CORREIA 00:40:18 É o contrário.

HELENA COSTA 00:40:19 Nós somos capazes de ser dos dos países.

HELENA COSTA 00:40:25 Vou tirar uma Holanda. Eventualmente uma Dinamarca. Mas somos os países que apostamos mais em jovens.

JORGE CORREIA 00:40:35 Estamos a aproveitá los bem.

HELENA COSTA 00:40:38 Estamos a exportá los muito bem porque os aproveitámos bem ou porque os formámos muito bem.

JORGE CORREIA 00:40:43 Sim, e portanto, quando eles dão nas vistas num clube de topo, numa Liga dos Campeões, vão para inglês, vão se embora? Nem sempre.

HELENA COSTA 00:40:50 Mas isto os clubes portugueses dependem disso. Os clubes portugueses têm que vender, não sobrevivem sem vendas. E Portugal está a fazer isso muito bem. Nós temos talento, muito. Temos um processo de formação que é muito bom também. Obviamente, como tudo pode melhorar em algumas coisas, mas somos olhados como um país exportador precisamente por isso. e depois a capacidade de ter um conhecimento de jogo que permite até os mais pequeninos. Não é que em muitos campeonatos não são olhados como são um bocadinho personas não gratas. Aquele perfil de jogador típico não vai de encontro a isso. Mas os pequeninos sobressaem porque pensam mais rápido, porque têm o processo de formação, porque têm o lado técnico, porque têm uma capacidade de adaptação, de comunicação.

HELENA COSTA 00:41:33 Eu tenho colegas italianos, não é preciso ir mais longe. Os espanhóis que comentam toda a gente em Portugal fala inglês. É impressionante. E se juntarmos a isso a capacidade de praticamente falar o português, não é já com o inglês e o espanhol sobrevive se em meio mundo. Portanto, tudo isto junto faz com que o jogador português seja apetecível.

JORGE CORREIA 00:41:52 Olha, nós estamos a exportar claramente agora até exportar treinadores. Treinador do Sporting. Amorim sai para Inglaterra. Não me interessa discutir os méritos de de qualidade técnica, porque estão à vista de todos, até para alguém como eu, que não percebe nada da bola. Mas gosto dele da maneira como, como, como ele comunica, como é que se está? Como é que os treinadores estão a comunicar em Portugal?

HELENA COSTA 00:42:17 Eu gosto muito da forma como o Ruben comunica. Eu, aliás, já disse isto na televisão várias vezes.

JORGE CORREIA 00:42:21 O que gostas nele?

HELENA COSTA 00:42:24 Eu posso olhar para a ideia do Ruben e eventualmente dizer assim eu mudava o A ou B ou C, a ideia de jogo ou concordar e sair.

HELENA COSTA 00:42:32 Mas o que eu acho que ele queria, e talvez aquilo que eu também acho é que disse há pouco que que me ajudou é a empatia e é a comunicação directa. E não precisa de ser aos berros. Pode ser uma coisa e ser muito justo e ser muito directo de uma forma. Agora só me lembro da palavra em inglês. Este ainda estou com o regresso de emigração. Muito educada. Não precisa de ser rude para se dizer algo directo que até seja desagradável do lado de lá ouvir. Mas eu acho que o Ruben tem essa forma que eu tenho muitas dúvidas que seja uma personagem. Parece me claramente que é muito natural dele ele ser assim e ganha muito com isso.

JORGE CORREIA 00:43:14 E agora vai para Inglaterra, sítio que tu conheces. O que é que ele precisa de fazer para ter sucesso?

HELENA COSTA 00:43:22 Eu não conheço a realidade por dentro de onde ele está vai para um contexto difícil. Assim como ele veio também para o Sporting e estava num contexto difícil. Essa é uma boa.

JORGE CORREIA 00:43:31 Notícia, uma má notícia.

HELENA COSTA 00:43:32 Ele gosta e é a questão.

HELENA COSTA 00:43:36 E vai para um sítio onde o impacto pode ser imediatamente visível. O estar num mau momento de Manchester United ou numa má organização a que muitos pontos de interrogação à volta do clube nesta altura. Se ele detetar o que é necessário na altura certa, eu acho que vai impactar rapidamente. E depois há outra coisa. Eu acho que a liderança que o United teve até há relativamente pouco tempo, as duas, três pessoas que passaram agora têm uma forma de ser, de estar, de comunicar, de empatia totalmente diferente. O que eu notei em Inglaterra é que os ingleses são e toda a gente diz que os alemães é que são muito frios, muito distantes, muito pragmáticos. Eles são regrados no trabalho, mas são as pessoas mais descontraídas com quem eu trabalhei até hoje.

JORGE CORREIA 00:44:25 É mais fácil trabalhar com os alemães do que com os ingleses.

HELENA COSTA 00:44:28 1000 vezes, 1000 vezes wow. Eles são muito conservadores, ingleses, muito conservadores no sentido Eu não estou a dizer isto de uma forma negativa. São formas diferentes. Eu, por exemplo, eu não posso ir a um jogo em que vá para um camarote, que é algo que pode acontecer.

HELENA COSTA 00:44:48 Se eu sou observadora de um clube, peço a entrada. Se for se calhar um scout, mandam me para a bancada. Se for um Chief scout já me mandam para um camarote. Eu não posso ir de ténis, nem que seja um tênis de marca x xpto que fiquem bem no outfit.

JORGE CORREIA 00:45:03 Portanto tens que ir classicamente vestida.

HELENA COSTA 00:45:06 Se um homem tem que ir de gravata é obrigatório coisas deste género. E quando falamos de jogo de sub 23, por exemplo, que já é considerado o processo de formação igual a pequenas coisas, muita formalidade, muito, muito conservadores, muito rigorosos nesse sentido, mas são super prático, super práticos. É fácil ver se um CEO no dia a dia de calças de ganga e ténis porque está lá para trabalhar, não interessa muito bem. Depois se há uma coisa, um jogo oficial, etc. E põe a.

JORGE CORREIA 00:45:36 Sua gravatinha.

HELENA COSTA 00:45:37 Ou não, com o seu blazer, a sua t shirt, os seus ténis com o fato é algo muito diferente. As culturas realmente têm coisas muito interessantes.

JORGE CORREIA 00:45:46 Olha, fala me do comentário televisivo Tu agora estás como comentador na televisão. Ouvimos te muitas vezes a explicar.

HELENA COSTA 00:45:52 Afinal trabalho muito. Não é.

HELENA COSTA 00:45:54 Trabalho de muitas horas não.

HELENA COSTA 00:45:56 Mas tenho estado muitas vezes o que eu adoro. Atenção, eu adoro, adoro. Se me perguntassem se eu ia fazer isto na vida, dizia que não, que nunca pensei O que é que tu gostas da função? Para já gosto do ambiente que se vive lá dentro.

JORGE CORREIA 00:46:12 A tribo de redacção. Tu já tu já quase és mais jornalista do que treinadora. Por este andar.

HELENA COSTA 00:46:17 Não, não.

HELENA COSTA 00:46:17 Não, não, treinador. Não me tiram a casca. Nunca, nunca, nunca. Mas gosto muito do ambiente que se vive na redacção. Cá está. Gosto das pessoas em si. Claro que os sítios são feitos pelas pessoas, mas adoro. Para mim, estar ali a ler um jogo é uma coisa naturalíssima. Não é como estar num café a falar com amigos, porque eu sei que estou a falar para pode ser milhares de pessoas, podem ser só centenas, pode ser uma, mas essa pessoa pode não perceber absolutamente nada de futebol.

HELENA COSTA 00:46:48 E eu tenho de ter a capacidade olhar para o jogo, comunicar para essa pessoa que não percebe nada de futebol, porque as que percebem vão me entender, as que não percebem e podem não me entender.

JORGE CORREIA 00:46:56 Então já descobri porque é que eu gosto de ti e porque eu consigo entender o futebol como tu lá estás. Tu estás.

HELENA COSTA 00:47:00 A ver um jogo, um sinal com auscultadores.

JORGE CORREIA 00:47:02 Dentro de uma cabine. Vê no ecrã como é que é.

HELENA COSTA 00:47:04 Se for ao vivo, estou no estádio. Depende, não é? Imaginamos.

JORGE CORREIA 00:47:08 Já te vi no relvado.

HELENA COSTA 00:47:09 Exacto, pronto. Mas isso são.

HELENA COSTA 00:47:11 Outros. Ainda por cima.

JORGE CORREIA 00:47:11 Fizeram uma maldade um dia que te puseram o jogador? Muito, muito, muito.

HELENA COSTA 00:47:14 Não foi um jogador. Foi um treinador que era muito grande.

HELENA COSTA 00:47:17 Nem cá está. Quer dizer, por.

JORGE CORREIA 00:47:18 Amor da santa.

HELENA COSTA 00:47:19 Então, mas eu não escolho os convidados.

HELENA COSTA 00:47:21 Não se importa sequer para ficar mais ou menos a nós.

HELENA COSTA 00:47:24 Foi antes do jogo do Porto.

JORGE CORREIA 00:47:26 E como é que é E qual é a sensação essa hora na relva?

HELENA COSTA 00:47:28 Adoro!

HELENA COSTA 00:47:29 Pois é, o meu sítio, não é? Mas nessa comunicação com os treinadores eu tive a capacidade, a possibilidade de estar com o treinador do que o treinador do Porto.

HELENA COSTA 00:47:39 Já me aconteceu também estar no Benfica e vai acontecer mais porque em principio irei para mais. E eu acho que isso seria muito bom se acontecesse também na nossa liga. Se os treinadores minutos antes do jogo pudessem estar connosco a falar, porque ali pelo menos o que eu sentia que é uma aproximação, depois a forma como se comunica também dizer ao treinador do Ophanimon Olha o Victor Bruno, já não está a ver. Nesta altura ele já está ali. Vá, abre lá o jogo E ele realmente abriu. Cá está.

HELENA COSTA 00:48:06 Explicou o que é que ia fazer.

HELENA COSTA 00:48:08 Claramente explicou até como é que ele ia anular a própria equipa que eu perguntei. Imagina que tu eras o Vitor Bruno, Como é que não levas a tua equipa? E ele se calhar não estava à espera desta pergunta. Mas muito genuinamente explicou o próprio Vitor Bruno. Nós. A pergunta foi mais ou menos do género os golos são todos praticamente do cruzamento daquele lado. Como é que tu trabalhaste isso? Ele explicou como é que ia implementar e obviamente que se calhar se fosse uma liga interna eles não abriam tanto o jogo.

HELENA COSTA 00:48:38 Mas era positivo haver.

JORGE CORREIA 00:48:40 Um jogo a seguir a uma segunda.

HELENA COSTA 00:48:41 Porque é o jogo.

HELENA COSTA 00:48:42 A seguir por toda a gente tem princípio, fala a mesma língua porque se calhar instantes antes ainda dava para adaptar aqui ou ali. Não tudo, claro, naturalmente, mas porque passa sempre uma informação. Mas era interessante haver uma comunicação mais próxima entre o adepto e o.

HELENA COSTA 00:48:55 Treinador e os jogadores.

JORGE CORREIA 00:48:56 Também, porque eu raramente ouço os jogadores a aparecerem, explicarem, a dizerem alguma coisa mais que não seja a banalidade do tentamos.

HELENA COSTA 00:49:04 Negar.

HELENA COSTA 00:49:04 Eu acho que as coisas estão a ficar um bocadinho diferentes. Podem melhorar, claro, mas eu acho que as coisas estão a ficar diferentes para melhor. O próprio jogador já não é só o jogador que vai lá e começa a ser um jogador com opinião. Não são todos. Há sempre os que os extinguem. Os mais velhos começam sempre a ter mais à vontade também para dizer algumas coisas que se calhar, se fossem mais novos e que precisassem do seu espaço não diriam. Acho que isto é normal, mas eu acho que estamos a melhorar também.

JORGE CORREIA 00:49:31 Na Liga portuguesa e que os jogadores e que tu tens debaixo.

HELENA COSTA 00:49:34 De olho não posso dizer não podes.

HELENA COSTA 00:49:36 Já não sei para onde é que vos vou. Estou aqui a trabalhar nas minhas coisas, mas quer dizer, não sei.

HELENA COSTA 00:49:42 Vou facilitar.

JORGE CORREIA 00:49:43 A vida. Nós já falamos dos avançados que marcam golos. Claro que nos fascinam, daqueles médios criativos que fazem todos os passes e que são absolutamente maravilhosos, até os desgraçados dos defesas quase desgraçados. Não, nunca falámos deles, nem dos defesas, nem dos nem dos Guarda-Redes. Só quando eles sofrem um frango e Crucifica o.

HELENA COSTA 00:50:00 Não, não. Olha, eu gosto. Gosto do Diego.

JORGE CORREIA 00:50:02 Costa. Tu não podes falar, mas eu posso.

HELENA COSTA 00:50:03 Não, eu posso dizer. Obviamente, eu gosto muito do Diego Costa. É um talento, sempre foi e não é de agora. Quem acompanhou o Diogo desde 16, 17.

JORGE CORREIA 00:50:12 E não é só como jogador da bola. Eu acho que ele.

HELENA COSTA 00:50:13 Tem.

HELENA COSTA 00:50:14 Sim, verdade.

HELENA COSTA 00:50:15 Coisas interessantes.

JORGE CORREIA 00:50:16 A defesa fala me dos defesas.

HELENA COSTA 00:50:18 Falo eu sou.

JORGE CORREIA 00:50:19 Aquilo. Os laterais estão sempre a correr para a frente e.

HELENA COSTA 00:50:21 Para trás, não sou? E os centrais.

JORGE CORREIA 00:50:23 Que.

HELENA COSTA 00:50:23 Para mim são os.

HELENA COSTA 00:50:24 Que pensam o jogo à frente, são os melhores, são esses que fazem toda a diferença e cá está que acompanham depois com a qualidade técnica, aquilo que pensam. E há muitos que estão a aparecer. Há muitos que vêm aí também das gerações atrás e sei que eu não vou falar porque são é o ouro.

HELENA COSTA 00:50:40 E assim interessam.

HELENA COSTA 00:50:41 Interessam, Mas, por exemplo, há muitos jogadores que estão agora com essa capacidade de construir o jogo desde traz as defesas centrais. Por exemplo, os laterais tanto atacam fora como dentro, que têm um conhecimento também que lhes permite uma capacidade técnica para além da parte física, que lhes permite estar sempre naquele vaivém permanente. E se é preciso trabalhar se e ter se também o lado inato. Portanto, há muita coisa valorizada.

JORGE CORREIA 00:51:04 Olha, estamos na final do Campeonato do Mundo em que tu lidera as equipa de Portugal.

JORGE CORREIA 00:51:09 Falta meia hora para o início do jogo. O que é que tu dirias aos jogadores ou aos jogadores? Eu tenho uma aposta. Eu acho que as mulheres vão ser campeões do mundo mais depressa que os homens portugueses. Acho, acho. Acho que é um feeling, É uma sensação.

HELENA COSTA 00:51:22 Por quê?

JORGE CORREIA 00:51:23 Porque a curva de evolução está a ser. Está a ser tão, tão óbvia, que eu agora.

HELENA COSTA 00:51:27 Estou a fazer perguntas.

JORGE CORREIA 00:51:28 Não estás a subverter isto? Já estás a aprender. O que é que se diz? Do que é que se fala?

HELENA COSTA 00:51:37 Do que.

HELENA COSTA 00:51:38 Viveram? Eu até ir puxar um bocadinho. Eu acho que isso deve ser um ponto. Nunca estive, não é? Mas acho que isso deve ser um ponto tão emocional que às vezes é preciso é resfriar um bocadinho, não chamar ainda mais emoções. Porque há naturalmente, os que estão completamente à vontade e aos outros que estão mais nervosos. E se nós fomos uma carga emocional nesse momento, ainda vai subverter depois o rendimento, não é? Portanto, aquele ponto ideal de stress é aquele que permite ter um bom nível de performance, mas também não eleva o stress ao ponto de não nos deixar fazer nada e, portanto, jogar com as emoções no sentido de disfrutem.

HELENA COSTA 00:52:16 Foi para aqui que trabalhámos. É fazer lembrar tudo o que passaram e, portanto, é só isso. E acho que eu própria, se estivesse nesse lado, iria falar disso, porque eu própria penso Quer dizer, eu já estive nos pelados. Eu dava aulas de educação física às 08h00 em Alcanena, dava treinos no Benfica às cinco e tal, dava treinos no no 1 de Dezembro em Sintra, das 09h30 até às 11h15 e no outro dia a seguir já estava em Alcanena a dar aulas às 08h00. Eu fiz isto anos sem fio e portanto no pelado no fim de semana. Autocarros imensas, coisas que foram sacrifícios que estas gerações agora provavelmente nem nem pensam que isso existiu. E agora estou a falar do feminino especificamente e portanto, e a pensar em todas as gerações que trabalharam para chegar ali e todo o processo em que elas tiveram também e.

JORGE CORREIA 00:53:10 Aproveitando ao contrário, o teu francês e o teu conhecimento da cultura francesa, o que é que se diria a seleção francesa depois de ter perdido com Portugal? Com o golo do Éder, que eles nem nunca sonharam na vida?

HELENA COSTA 00:53:23 Temos pena.

HELENA COSTA 00:53:26 Não foi um momento. Acho que foi. Foi bom para todos. Foi o conto de fadas por ser o Éder. E muito honestamente, eu já disse isto várias vezes. Quando saiu a convocatória, o Éder foi se calhar o patinho feio, o momento esperado no sentido de haver outras possibilidades. E todos nós pensámos não nesse sentido, porque ele mereceu, por estar lá, mas pensámos que eventualmente não fosse utilizado ou que fosse claramente o menos utilizado.

JORGE CORREIA 00:53:52 E quando Fernando Santos decide que que ele vai lá para dentro, Tu pensas está uma coisa.

HELENA COSTA 00:53:56 Que todos pensámos e todos pensámos venha o primeiro que que diga que não. Todos pensámos, mas a verdade é que resultou e o Fernando Santos foi o maior. O Hélder foi o maior e essa seleção demos muita alegria. Deus queira que se repita. Seja masculino, seja feminino, seja futsal, seja futebol de praia, todos contam e são todos de Portugal.

JORGE CORREIA 00:54:20 O futebol é feito de momentos inesquecíveis. O golo do Éder em 2016 será sempre lembrado não só porque foi decisivo, mas porque tem dentro de si a essência do desporto.

JORGE CORREIA 00:54:32 Um instante de pura superação e glória. Hoje os jovens jogadores são mais talentosos, rápidos e exuberantes. O jogo é cada vez mais intenso e cada atleta carrega inúmeras missões dentro do campo. Defender, atacar, apoiar os colegas e tomar decisões em segundos. Mas isso não acontece sozinho e por artes mágicas. O desporto coletivo, como o futebol é uma escola de comunicação, cooperação e sincronismo. Dentro de campo, os atletas falam entre si palavras, gestos, olhares, algumas palavras agrestes até e fora dele há lições de comunicação em cada jogada, em cada estratégia, em cada golo. Podemos aprender muito com isto, sobre liderança, sobre poder que uma equipa pode ter e sobre como criar ligações mais fortes. Só lamento que os jogadores não falem mais vezes fora do campo a um mundo de sabedoria e experiência nas suas cabeças. E ouvi los poderia ensinar nos tanto mais sobre o jogo e sobre nós mesmos.

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Dizem que há três linguagens universais: a música, a matemática e o desporto. No desporto, o futebol destaca-se como a língua franca mais consensual. É um idioma que todos parecemos entender, independentemente da idade, do género ou da geografia.

São 11 jogadores contra outros 11. Um campo, uma bola, e tudo o que fazem parece ser compreendido por todas as pessoas. De José Mourinho ao adepto mais comum na bancada ou em casa. Todos sabemos quando era penálti. Todos vemos a genialidade de um passe ou sentimos que o falhanço podia ter sido o nosso, mesmo que só joguemos no sofá.

Mas o futebol é um paradoxo de comunicação: da simplicidade absoluta de “marcar um golo” à complexidade tática de uma equipa que joga rápido, bem e em harmonia.

O futebol também é emoção. Hoje, o treinador é o melhor do mundo. Amanhã, devia ser despedido sem pestanejar. E tudo depende de uma coisa tão simples como a bola entrar ou não entrar.

Mas será que o futebol é só isso? Emoções e golos? Para entendermos melhor a linguagem deste jogo universal, convidei uma das melhores treinadoras portuguesas de futebol: Helena Costa. Atualmente, Helena aparece nos grandes estádios da Europa, explicando-nos os jogos como poucos conseguem — de forma simples, acessível e direta, que até eu consigo entender.

Helena Costa tem no currículo momentos extraordinários. Participou na formação de talentos de elite, como Bernardo Silva, quando treinava nas escolinhas do Benfica. Aceitou o desafio de ir ao Qatar para criar, do zero, uma seleção nacional feminina. E foi até ao Irão, um país onde a cultura e a condição feminina levantam barreiras que poucos ousam enfrentar.

Esta conversa é sobre a comunicação no desporto de alta competição. Mas também é sobre talento, liderança e a melhoria constante do desempenho.

A nossa convidada não é apenas treinadora e comentadora desportiva. Ela é também scout, ou seja, ‘olheira’ de talentos. Helena tem o olhar treinado para identificar o que separa um bom jovem jogador de alguém que, um dia, vestirá a camisola da seleção nacional. E spoiler: não é só a técnica que conta. É também a rapidez de pensamento, a leitura tática e a capacidade de ver o jogo como um todo — a sua equipa, o adversário e o momento certo para agir.

No entanto, mesmo os craques, ou talvez especialmente eles, nem sempre lidam bem com as críticas dos treinadores. Porque, no futebol, o talento só é suficiente quando é acompanhado de resiliência, disciplina e a vontade de melhorar.

E é aqui que entra a comunicação. É através dela que treinadores e jogadores se afinam, que talentos se desenvolvem e que equipas se tornam campeãs.

Esta pode parecer uma conversa sobre futebol, mas é muito mais do que isso. É sobre liderança, sobre ultrapassar limites e, acima de tudo, sobre a condição humana.

TEMPOS E TEMAS

[00:00] Introdução ao Podcast
Título: Boas-vindas e Introdução ao Tema
Resumo: O apresentador dá as boas-vindas aos ouvintes e introduz o tema do episódio, que explora a comunicação no futebol, destacando a universalidade do desporto e a complexidade da comunicação envolvida.

[00:35] Apresentação da Convidada
Título: Apresentação de Helena Costa

Resumo: O apresentador apresenta Helena Costa, uma treinadora e comentadora desportiva de renome, mencionando a sua experiência em treinar jovens talentos e a sua atuação em diferentes países, incluindo Qatar e Irão.

[01:35] Comunicação e Emoções no Futebol
Título: A Complexidade da Comunicação no Futebol
Resumo: Discussão sobre como o futebol é um paradoxo de emoções e comunicação, onde a simplicidade de marcar um golo contrasta com a complexidade tática do jogo.

[02:53] O Papel do Treinador e do Scout
Título: A Missão de Identificar Talentos
Resumo: Helena fala sobre a importância da comunicação na formação de jogadores e como ela visa identificar talentos que podem se destacar no futebol.

[04:09] Desafios de Ser Mulher no Futebol
Título: Desafios de Ser Treinadora
Resumo: Helena discute as dificuldades que enfrenta como mulher num ambiente predominantemente masculino e a importância da competência no seu trabalho.

[05:24] A Influência dos Resultados no Futebol
Título: A Pressão dos Resultados
Resumo: Conversa sobre como os resultados impactam a carreira dos treinadores e a dinâmica dos clubes, além da relação entre treinadores e direções desportivas.

[07:58] A Comunicação no Treino
Título: A Importância da Comunicação no Treino
Resumo: Helena fala sobre como a comunicação varia entre diferentes faixas etárias e géneros, e a necessidade de adaptar a abordagem conforme o público.

[10:04] Gestão de Conflitos no Balneário
Título: Gerindo Tensão no Balneário
Resumo: Discussão sobre como lidar com a tensão entre jogadores mais jovens e experientes, e a importância da meritocracia no futebol.

[12:32] O Olhar do Scout
Título: O Que Procura um Scout
Resumo: Helena explica o que considera talento num jogador e como a capacidade de pensar o jogo à frente dos outros é crucial.

[14:50] Desenvolvimento de Jovens Talentos
Título: Trabalhando com Jovens Jogadores
Resumo: Conversa sobre como desenvolver jovens talentos, focando na importância do feedback e do entendimento do jogo.

[18:00] Lidar com a Frustração
Título: A Importância da Resiliência
Resumo: Helena discute como a resiliência e a capacidade de lidar com críticas são essenciais para o sucesso de jogadores talentosos.

[19:50] Comunicação Direta com Jogadores
Título: A Comunicação Direta e Justa
Resumo: A importância de ser claro e direto na comunicação com os jogadores, adaptando a abordagem a cada indivíduo.

[22:00] Desafios de Treinar no Irão
Título: Superando Barreiras Culturais
Resumo: Helena compartilha as suas experiências de treinar no Irão, incluindo as dificuldades de comunicação e a adaptação cultural.

[25:07] A Paixão pelo Futebol no Irão
Título: A Cultura do Futebol no Irão
Resumo: Discussão sobre a paixão pelo futebol no Irão e como isso impacta o desenvolvimento do desporto no país.

[27:40] Comunicação em Estádios Cheios
Título: Desafios da Comunicação em Jogos
Resumo: Helena fala sobre as dificuldades de se comunicar com jogadores em estádios cheios e a importância da comunicação não verbal.

[28:50] O Papel dos Líderes em Campo
Título: Definindo Líderes no Futebol
Resumo: Discussão sobre as características que definem um líder dentro de campo e a importância da personalidade.

[30:00] Lidar com Jogadores Estrelas
Título: Gerindo Jogadores Estrelas
Resumo: Helena compartilha a sua experiência em lidar com jogadores que têm um status elevado e como a liderança é crucial nesse contexto.

[32:00] A Criação do Futebol Feminino no Qatar
Título: Desafios de Criar uma Seleção Feminina
Resumo: Helena fala sobre a experiência de criar uma seleção feminina do zero no Qatar e os desafios enfrentados.

[36:00] A Importância da Empatia
Título: A Empatia na Liderança
Resumo: A importância de criar um ambiente empático e próximo para motivar e desenvolver jogadoras.

[39:00] A Comunicação na Televisão
Título: A Experiência como Comentadora
Resumo: Helena discute a sua experiência como comentadora de futebol e a importância de comunicar de forma acessível para todos os públicos.

[42:00] O Futuro do Futebol Feminino
Título: Expectativas para o Futebol Feminino
Resumo: Conversa sobre o crescimento do futebol feminino e as expectativas para o futuro, incluindo a possibilidade de sucesso em campeonatos mundiais.

[44:00] Conclusão e Reflexões Finais
Título: Reflexões sobre o Futebol e a Comunicação
Resumo: O apresentador encerra o episódio refletindo sobre as lições aprendidas com a conversa, destacando a importância da comunicação e da conexão humana no desporto.

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Transcrito Automaticamente Com Podsqueeze

JORGE CORREIA 00:00:12 Ora viva! Bem vindos ao Pergunta Simples o vosso Podcasts sobre comunicação, onde exploramos como nos ligamos uns aos outros através das palavras e das acções? Dizem que no mundo há três linguagens universais a música, a matemática e o desporto. E dentro do desporto, o futebol destaca se como a língua franca mais consensual e um idioma que todos parecemos entender, independentemente da idade, do género ou da geografia. São 11 jogadores contra O111 campo, uma bola e tudo o que fazem parece ser compreendido por toda a gente. Do José Mourinho ao adepto mais comum da bancada ou em casa, todos sabemos quando era penálti e quando vemos a genialidade de um passe ou o golo, ou sentimos que o falhanço podia ter sido o nosso. Mesmo que só joguemos no sofá. Mas o futebol é um paradoxo de comunicação, da simplicidade absoluta de marcar um golo. A complexidade táctica de uma equipa que joga rápido, bem e em harmonia. O futebol é emoção cujo treinador é o melhor do mundo. Amanhã deveria ser despedido sem pestanejar. E tudo depende de uma coisa tão simples como a bola entrar ou não entrar de uma baliza.

JORGE CORREIA 00:01:35 Mas será que o futebol é só isto emoções e golos? Para entendermos melhor a linguagem deste jogo universal, convidei uma das melhores treinadoras portuguesas da atualidade Helena Costa. Atualmente, Helena Costa não é só treinadora, mas aparece também como comentadora na televisão. Aparece nos grandes estádios da Europa, explica nos os jogos como poucos conseguem de forma simples, acessível e directa. Até eu consigo entender o jogo. Helena tem no seu currículo momentos extraordinários. Ela, por exemplo, participou na formação de talentos de elite como Bernardo Silva, quando treinava nas escolinhas do Benfica. Aceitou depois o desafio de ir até o Qatar para criar do zero uma seleção nacional feminina e foi até ao Irão, o país onde a cultura e a condição feminina levantam barreiras que poucos ousam enfrentar. Esta conversa é sobre comunicação no desporto de alta competição, mas também é sobre talento, liderança e melhoria constante da performance. A nossa convidada não é apenas uma treinadora e comentadora desportiva, ela também é scout, ou seja, olheira de talentos. A Helena tem o olhar treinado para identificar o que separa um bom jovem jogador de alguém que um dia vai vestir a camisola da seleção nacional.

JORGE CORREIA 00:02:53 E não é só a técnica que conta, é também a rapidez de pensamento, a leitura tática, a capacidade de ver o jogo como um todo, sua equipa, o adversário é o momento certo para agir. Têm por isso, como missão a Helena encontrar o próximo Cristiano Ronaldo. No entanto, mesmo os craques ou especialmente os craques, eles nem sempre lidam bem com as críticas dos treinadores, porque no futebol o talento só é suficiente quando é acompanhado de resiliência, disciplina e vontade de melhorar. E é aqui que entra a comunicação e, através dela, a comunicação que os treinadores e os jogadores se afinam, que os talentos se desenvolvem e que as equipas se tornam campeãs. Esta pode parecer uma conversa sobre futebol, mas é muito mais do que sobre futebol. É sobre liderança, sobre ultrapassar limites e sobre, acima de tudo, sobre a condição humana reduzida a um jogo que se joga entre pessoas que Viva. Helena Costa, treinadora descobridora de talentos comentadora desportiva. Agora sou teu fã de te ver a comentar, a explicar me um jogo que parece tão fácil e depois, afinal é bem mais difícil do que isso.

JORGE CORREIA 00:04:09 Nasceste em 78, começaste a treinar os miúdos das escolinhas do Benfica e depois decidiste passar por vários sítios, treinar equipas femininas, duas que tenho uma grande curiosidade no Qatar e no Irão e com um saltinho entretanto pela Europa para liderar a equipa do Clermont Foot, uma equipa profissional de futebol. É mais difícil ser mulher do que homem nestas coisas de treinar a bola.

HELENA COSTA 00:04:39 Boa tarde. Primeiro que tudo e obrigada pelo convite e pelos elogios. É mais difícil num mundo profissional quando se fala de profissional de futebol masculino. Sim, não vou esconder que que é mais difícil, mais difícil ter acesso, é mais difícil perdoar, mas depois eu penso que tal e qual como em todos os trabalhos, depende da competência. E sendo homem ou mulher, aquilo que é avaliado é o trabalho. Claro que o lidar no dia a dia tem que ser algo, lidar com muitos homens, lidar tem que ser algo natural e respeitoso. Mas isso eu penso que será no futebol, como na indústria farmacêutica, ou aqui na rádio ou na televisão.

HELENA COSTA 00:05:22 Portanto, faz parte da nossa sociedade.

JORGE CORREIA 00:05:24 Eu tenho uma curiosidade que é um treinador, mesmo que seja absolutamente competente, que esteja a fazer a coisa que é certa. Depois, depende desse estranho fenómeno do raio da bola entrar ou entrar na rede abanar.

HELENA COSTA 00:05:39 Sim, na maioria das vezes, atenção, porque começa a haver também já dirigentes com outra mentalidade e obviamente toda a gente depende de resultados e quanto mais resultados houver, mais o clube progride, mais jogadores se vendem. Aquilo é uma bola de neve, não é? Hoje em dia o futebol é muito mais económico do que era há uns tempos atrás. Já não há o amor à camisola, só não é e portanto pode.

JORGE CORREIA 00:05:59 Haver ao sr. Treinador que tem aqui este jogador que eu comprei aqui por 10 milhões e agora temos que o fazer render.

HELENA COSTA 00:06:05 Sim, pode haver, mas normalmente o que acontece agora é os 10 milhões são investidos já com uma perspetiva também que integre o próprio treinador a todo o tipo de projetos, a projetos em que há uma direcção desportiva que impõe a ideia do clube e, portanto, o treinador integra se ali.

HELENA COSTA 00:06:23 Mas os jogadores são comprados pela direcção desportiva. Mas na maioria.

JORGE CORREIA 00:06:26 Eu é outro e outro. Como e como é que isto funciona? Normalmente os clubes têm um presidente da direcção de finanças, um dono do clube também, exatamente importante, que está lá na bancada. Estou a pensar mesmo muito no futuro, no futebol inglês. Depois pode haver um director desportivo. Estou a pensar no Hugo Viana, eventualmente, que me lembro logo e lá dentro está um treinador. Então o treinador decide o que.

HELENA COSTA 00:06:50 O treinador decide tudo no dia a dia da equipa. Depois, o que decide para além do dia a dia da equipa já depende da forma como os clubes se estruturam. E era isso que eu estava a explicar. Há uns que dependem muito da vontade do dono, imaginando que um clube tem um dono, o dinheiro é do dono e, portanto, se fosse o meu dinheiro, eu também queria ter uma parte da decisão. Escolher a pessoa certa para o manejar e, a partir daí, pode explicar. Se o treinador estar claramente inserido na decisão da compra de um jogador, por exemplo.

HELENA COSTA 00:07:21 E acho que faz mais sentido integrar toda a gente, porque, no fundo, é o treinador que o vai ou desenvolver, ou colocá lo a jogar ou etc. Potencial. Ou então o treinador é simplesmente um inquisidor da ideia, da ideia, do clube que se integra ali e que ajuda a desenvolver, mas que não decide. Depende muito das estruturas, mas o dia a dia da equipa. E não estou a pensar no futebol inglês, em que o treinador é mais manager e muito mais líder nas outras áreas todas do clube. Em Portugal. O treinador é isso. A gestão do dia a dia da equipa. Vamos pensar de uma forma um bocadinho mais rotulada.

JORGE CORREIA 00:07:58 Olha o que é que. Como é que tu vês esta função da comunicação precisamente nesta máquina tão complexa que o futebol se tornou no dia de hoje? Como é que? Como é que tu usaste as ferramentas? Que ferramentas é que tu precisaste? Quando tu quando disseram assim Olha, agora vais aqui treinar as escolinhas do Benfica. Podemos começar por.

HELENA COSTA 00:08:19 Coisas tão diferentes. Começar com meninos, não é? Foram coisas muito diferentes. Se eu pensar nessa nessa minha fase da vida, porque eu também era uma miúda. Nessa altura eu estava no primeiro ano da faculdade a terminá lo quando isto surgiu. E portanto, era uma miúda, basicamente. Ainda no outro dia me reuni com alguns deles, que agora já são homens também e eles próprios descobriram a minha idade nessa altura e ficaram chocados e até me disseram meio a brincar se eu soubesse não tinha respeitado. Quer dizer, tu tinhas quase a idade que eu tenho agora. Como é que é possível? Foi engraçado isso, não? Mas nessa altura era o aprender a adaptar a comunicação para miúdos, porque é totalmente diferente ainda hoje. E não é. Independentemente da minha idade, o comunicar com miúdos é diferente de comunicar com adolescentes e é diferente de comunicar com seniors. E mesmo assim eu posso dizer que comunicar com homens é diferente de comunicar com mulheres no treino. Então o treino e o treino, aquilo, a explicação do exercício é exactamente igual o conteúdo, etc.

HELENA COSTA 00:09:21 O que eu notei e acredito que possa ser diferente nesta altura, até porque as miúdas começam a ter agora um processo de formação, mas na altura e podemos dar o exemplo da Dolores, da própria Filipa Patão, que agora está está na Vogue e toda a gente percebeu que quem é? Eram miúdas que estavam integradas, que eu as integrei na primeira equipa, por exemplo, do primeiro Dezembro, conta com jogadoras de 29 anos, as Carlas Cuts, as edits e.

JORGE CORREIA 00:09:50 Elas tinham.

HELENA COSTA 00:09:51 14 a Edit 14. A Dolores, perdão, é a Filipa tinha 16 ou 17.

JORGE CORREIA 00:09:56 Por acaso tem duas adolescentes.

HELENA COSTA 00:09:58 Claramente 13, até com talento, com talento e.

JORGE CORREIA 00:10:02 Colocastes numa equipa sénior.

HELENA COSTA 00:10:04 Nas férias. Isto era assim no futebol feminino há muito tempo e o.

JORGE CORREIA 00:10:08 Efeito disso.

HELENA COSTA 00:10:10 A Dolores passou a titular Claramente. A Filipa teve as suas oportunidades passo a passo e mesmo a Solange, que ainda não falámos, também tinha as suas oportunidades. Mas a Dolores claramente passou a titular, talvez na posição onde lhe era possível na altura porque a equipa era campeã.

HELENA COSTA 00:10:27 Mas entretanto perdemo nos por uma questão de comunicação. Elas não tendo esse processo de formação, eram muito curiosas. Não é o questionar a treinadora porque é que se faz isto e qual é o sentido no jogo? O quererem perceber a ideia do jogo, quererem perceber o porquê do exercício enquadrado no jogo e se faz parte de um treinador. Os homens ou os rapazes. E eu tive experiência até num clube que eu considero onde o processo de formação existe e a cultura do jogador é grande. É para fazer e para fazer. Não se questionava.

JORGE CORREIA 00:11:03 São pragmáticos? São mais, São mais diretos.

HELENA COSTA 00:11:05 Têm o tal, a tal base de formação. Não é que.

JORGE CORREIA 00:11:08 É tudo igual à partida para todos.

HELENA COSTA 00:11:10 Agora, mas elas antes não tinham e portanto, a curiosidade táctica era algo que lhe estava muito inserida.

JORGE CORREIA 00:11:17 Quer dizer, calma, há linguagens diferentes quando quando tu vens de processos formativos diferentes, há uma língua.

HELENA COSTA 00:11:24 Eu notei isso, acredito. E era o que estava a dizer. Agora elas já conseguem ter um processo de formação e acredito que dentro em breve a curiosidade vai ser menor, porque já percebem o jogo de outra maneira.

HELENA COSTA 00:11:34 Já tiveram o tal aquisição de conhecimento.

JORGE CORREIA 00:11:37 Olha, tu estás a falar de uma coisa curiosa que é pegar em gente nova, com talento, colocar numa equipa sénior. Isso não gera uns os amuos em relação às aquelas que provavelmente podem perder o lugar. Faz parte. Ai, como é que tu gere? Como é que se gere essa tensão dentro de um balneário?

HELENA COSTA 00:11:54 Eu acho que há coisas que são naturalmente aceites porque são visíveis. Se aparece alguém que é melhor, embora seja o mais novo, o cartão de cidadão não garante o lugar. Não é, à partida, o garante lugar é competência, talento, a capacidade de ter a performance.

JORGE CORREIA 00:12:11 Isso vê se.

HELENA COSTA 00:12:13 Claramente.

JORGE CORREIA 00:12:14 O que é que tu procuras? Tu ainda por cima és scouting, portanto, tu, tu tens. Tens a tarefa de encontrar o próximo Cristiano Ronaldo, não é? Não sinto essa pressão, mas de encontrar o que é que o que é que um olheiro, o que é que um treinador? O que é que um observador como tu és procura ouvir? O que é que tu vês que não vejo?

HELENA COSTA 00:12:32 Isto dava me uma conversa.

HELENA COSTA 00:12:34 Quantas horas é que temos? E muito. Também tem uma parte muito intuitiva. Nós estamos a pouco a falar de ideias, de clube e projetos do clube. Depende muito do que procuramos. Vou dar um exemplo Eu já trabalhei no Celtic, já trabalhei no entrar em Frankfurt, no Watford, mas se eu trabalhasse para um clube português, eu não iria procurar exactamente as mesmas coisas que estava à procura nestes clubes. Então porque o futebol português é diferente do futebol alemão Em muita coisa. É muito diferente do inglês. Agora, talento é talento, é talento e talento. Em qualquer parte do mundo há uns que se adaptam mais a uma ideia de jogo e a outros que se adaptam menos. O que é que eu procuro e o talento que é isso que traz dinheiro?

JORGE CORREIA 00:13:17 Vamos lá ver. Mas aquilo que eu consigo perceber do jogo, alguém que remate à baliza com força e colocação e marca golos, em princípio é talentoso. Isso é.

HELENA COSTA 00:13:26 Talento. E é dos mais caros, muito mais caros.

JORGE CORREIA 00:13:28 Temos até por já uma etiqueta.

JORGE CORREIA 00:13:29 Sim, sim.

HELENA COSTA 00:13:29 Os avançados são sempre os mais.

JORGE CORREIA 00:13:31 Seja o número de golos.

HELENA COSTA 00:13:32 Mais valorizados.

JORGE CORREIA 00:13:33 Mais valorizados.

HELENA COSTA 00:13:34 Os que marcam isso marcam.

JORGE CORREIA 00:13:36 Aqueles que estão lá Quase, Se calhar não. Depois também é para mim talento alguém que consegue fazer passes. Estou sempre a imaginar passes a 30 metros ou 40 metros que parece que pegou com a bola na mão e lá colocou. É e é. E é um jogador formidável. Ou então que faz magníficos.

HELENA COSTA 00:13:54 Para mim, um grande talento é aquele que pensa o jogo à frente dos outros. Aquele que consegue, tem uma tomada de decisão impecável.

JORGE CORREIA 00:14:04 Pensa mais rápido, pensa melhor.

HELENA COSTA 00:14:07 Mais rápido e melhor. São dois, dois conceitos que se associam à tomada de decisão, isto é, que consegue ter uma qualidade técnica que acompanhe essa forma de ler o jogo. Portanto, não.

JORGE CORREIA 00:14:17 Adianta só só vislumbrar depois, também é preciso discutir.

HELENA COSTA 00:14:20 Posso ler muito bem o jogo, mas o Messi chega a aquilo como eu e coloca. Faz tudo o que quer, não é? Portanto, as várias coisas associadas é o ideal.

HELENA COSTA 00:14:28 O ideal é aquela máquina completa, que é o que pensa bem e rápido. Decide, portanto, bem o que tem a técnica que acompanhe essa decisão e passe pelo lado físico que ainda acompanha. Há quem valorize mais o lado físico e há muitos campeonatos em que isso é hiper valorizado e, portanto, os pequeninos que pensam muito rápido porque toda a vida foram sempre mais pequeninos e para se.

JORGE CORREIA 00:14:50 Levam com os grandes em cima, não é.

HELENA COSTA 00:14:52 Para evitarem esse confronto físico, desenvolveram outras capacidades intelectuais que hoje em dia são uma grande arma.

JORGE CORREIA 00:14:59 É isso que explica os Bernardos Silva da vida.

HELENA COSTA 00:15:01 Totalmente, totalmente o Bernardo. Eu treinei o Bernardo.

JORGE CORREIA 00:15:04 Ah, então.

HELENA COSTA 00:15:05 O Bernardo era assim, o Bernardo era assim. E quando eu digo isto às pessoas, não é bem assim. Era assim. O Bernardo era assim a decidir a técnica. Obviamente que ele evoluiu muita coisa no entendimento do jogo, mas aquilo que vinha do Bernardo Inato era. Era isto que nós vemos e esta forma de estar na vida também muito simples.

HELENA COSTA 00:15:25 Era ele, claro, tem um contexto familiar que proporciona, mas a inteligência, a capacidade técnica, até a forma de correr, tudo igual, tudo igual. E isto vê se aos sete pessoas, oito E as pessoas dizem há muita coisa que no processo de formação Sam, tu não sabes aos sete anos que o miúdo vai conseguir. É verdade, há muita coisa, mas os bons são sempre bons.

JORGE CORREIA 00:15:47 Ainda por cima, Raio do homem, ainda por cima comunica bem. Caraças, tem tudo, não é? Quando tu olhas para isto, para um jovem talento, neste caso Bernardo, e dizes Eu sou o treinador deste deste miúdo, o que é que tu procuras desenvolver? Como é que tu trabalhas?

HELENA COSTA 00:16:04 Há muita.

JORGE CORREIA 00:16:04 Coisa. O processo de feedback, por exemplo, porque aos sete anos eu imagino que o conjunto de coisas que ele faça, apesar de maravilhosas, estão carregadas de coisas que que é preciso aperfeiçoar.

HELENA COSTA 00:16:15 Sim, sobretudo o entendimento do jogo. Porque quando é a qualidade técnica, obviamente.

HELENA COSTA 00:16:21 Eu lembro, por exemplo, o Jota, que agora está no terreno, nós. Ele sempre foi um acima da média do ponto de vista técnico e ele adora fintas. Ainda hoje adora fintas e provavelmente teve muitos treinadores que foram castrando nesse nessa expressão. Mas é nisso que ele é bom e é para isso que ele é contratado, por exemplo, agora para o Reino. E foi nisso que ele sobressaiu no Celtic também. O percurso que teve no Benfica, depois ao nível sénior, isso é outra história. Mas é naquilo que ele é bom e é naquilo que ele sobressaiu sempre. E nós, meio a brincar, já a explorar um lado muito fora do normal. Dizíamos lhe Olha, no próximo treino, assim que chegar, epá, tens que fazer 1,1 tesoura, uma não sei quê. Tudo seguido. E ele lá em casa, lá, lá treinava e a primeira coisa que eu fazia era está aqui, pumba! Portanto, pequenos desafios. Agora, o que é que é o agrupar o individual no coletivo? Porque isso, para os miúdos, o desenvolvimento do pensamento abstrato é algo também muito complexo.

HELENA COSTA 00:17:20 Eles vêem o agora e o ele é o agora e o perspetivar a equipa e lá mais à frente, ler o jogo um bocadinho mais à frente é algo que temos que desenvolver. Agora as coisas inatas estão lá sempre e estão lá sempre, também no nível sénior. E isso eu acho que é muito fácil. Olhar para alguns miúdos e perceber. dificilmente não vai lá chegar. E miúdos muito novos. E depois o aspeto mental, O aspeto mental? Sim. E consegue se perceber essa.

JORGE CORREIA 00:17:47 Teimosia, essa e essa vontade.

HELENA COSTA 00:17:49 Persistência e persistência.

JORGE CORREIA 00:17:51 O sobreviver à frustração porque lá está um miúdo muito talentoso.

HELENA COSTA 00:17:55 O Bernardo.

JORGE CORREIA 00:17:56 O Bernardo.

HELENA COSTA 00:17:56 O Bernardo não jogava a titular nos sub15, sub16, sub17.

JORGE CORREIA 00:18:00 E não ficava frustrado.

HELENA COSTA 00:18:02 Claro que ficava o Bernardo e o Ricardo Horta. Claro que ficava. Mas a persistência e o acompanhamento que algumas pessoas deram. O Bernardo já falou disso várias vezes, até a importância que o Chalana teve nesse processo. Mas alguns desistem e outros têm quem os acompanhe.

JORGE CORREIA 00:18:18 Lá está essa ideia.

JORGE CORREIA 00:18:19 O Chalana fá los bem, Quer. Confio em ti, miúdo. Tu tens, tens um talento como eu. Lá está. É quase uma irmandade. Tu é o papel dos pais. Não, eu não.

HELENA COSTA 00:18:28 Vou envolver os pais porque há uns que põe impressão. No caso do Bernardo, não punham pressão nenhuma. São pessoas com com tudo no sítio. Aí o.

JORGE CORREIA 00:18:36 Segredo também não.

HELENA COSTA 00:18:37 É? Sim, era o que eu estava a dizer há pouco. O envolvimento que os jogadores têm auxilia muito depois a superar as dificuldades. Mas ainda bem que há dificuldades no percurso deles de formação, porque não pode ser tudo perfeito.

JORGE CORREIA 00:18:50 Olha como é que tu lidas com jogadores que evitam a comunicação direta? Porque eu quero imaginar. Estou a ouvir te agora aqui e estou a pensar Esta treinadora deve ser daquelas que diz tudo o que tem para dizer aos.

HELENA COSTA 00:19:03 Não é só a treinadora, é a pessoa, sim a pessoa e sobretudo a Chief Scouts. É porque isto é tudo muito bonito, mas é a tomada de decisão que envolvem milhões.

HELENA COSTA 00:19:16 Têm que ser muito claras e comprar um jogador envolve muitos milhões. Como é que.

JORGE CORREIA 00:19:20 Se diz que não?

HELENA COSTA 00:19:22 Justificando o porquê? Não é dizer que não, Só porque não é justo dar as minhas razões e eu posso estar errada. Naturalmente que já errei, já acertei muitos outros também, Mas é dar as minhas opções e o porquê. Mas é dizer tudo na cara e eu acho que não há forma mais natural de liderança do que ser justo e frontal. Quem não gosta? Paciência.

JORGE CORREIA 00:19:45 E todos os e todos os jogadores recebiam da mesma maneira?

HELENA COSTA 00:19:50 Não. Cada pessoa é uma pessoa. Isso tratar todos por igual. Isso para mim não faz sentido. Há, claro, comportamentos que o treinador tem que ter em grupo. E quem disse? Eu volto a dizer quem diz o treinador, diz o director desportivo, é um bocadinho a parte nesse sentido, porque não há um contacto directo com a equipa. Mas mas a com um board, com uma direcção, com o dono e portanto cada pessoa é uma pessoa.

HELENA COSTA 00:20:16 E eu posso estar a falar contigo agora. Se estivesse aqui, a produtora provavelmente teria que dizer a mesma coisa de outra maneira. Tinha que me. Não é manipular o discurso, mas é adaptar. E cada pessoa é uma pessoa. Há pessoas mais sensíveis, há pessoas mais ou menos sensíveis. Não se pode tratar toda a gente da mesma maneira. E isto é como na vida, eu acho.

JORGE CORREIA 00:20:36 E há uns jogadores que reagem mais a uma crítica direta ou a um estímulo e outros que são mais.

HELENA COSTA 00:20:42 Sim, uns que ficam mais nervosos, mais vulneráveis, mais são mais sensíveis. Há outros que são mais frios a outros que estão habituados a uns que já têm mais experiência, também levam isso de outra maneira. Há os que a tal Dolores, que entra com 14 aninhos, não posso falar para a Dolores como falava com a Carla Couto, por exemplo, mas são pequenos pormenores. Agora há regras que são regras de grupo e há comunicações que são a comunicação do grupo. Isso é sim e por igual.

HELENA COSTA 00:21:12 Mas cada indivíduo é um indivíduo. E como.

JORGE CORREIA 00:21:13 É que? Como é que se molda? O que é que é a pressão para a performance? Por um lado, a formação, por outro. E depois esse desenvolvimento e esse, essa, essa comunicação com com cada um dos miúdos ou dos atletas depois mais crescidos.

HELENA COSTA 00:21:28 Eu acho que isso faz com que com o dia a dia, vai com o dia a dia, com o conhecimento de cada um, com Um. Muita interpretação de alguns sinais. Em Off the record falamos já da comunicação não verbal e eu acho que para mim algo não é só na relação treinador jogador. É também tudo. E eu tendo vivido no estrangeiro, acho que desenvolvi isso muito, sobretudo no Qatar.

JORGE CORREIA 00:21:56 Neste Irão e Qatar.

HELENA COSTA 00:21:57 Qatar primeiro e depois irão.

JORGE CORREIA 00:21:59 Culturas completamente diferentes.

HELENA COSTA 00:22:00 Sim, a.

JORGE CORREIA 00:22:01 Língua é um mistério.

HELENA COSTA 00:22:03 A língua começou por ser um mistério no Qatar. Eles falam naturalmente o árabe, mas no Qatar, até fruto daquilo que é a influência norte americana e o país.

HELENA COSTA 00:22:14 A forma como se está a desenvolver praticamente todas as universidades e algumas escolas são lecionadas em inglês e, portanto, a comunicação é muito fácil por lá. A maior parte das pessoas que lá vivem são estrangeiras e o inglês é quase a língua. Não digo nativa, mas praticamente.

JORGE CORREIA 00:22:30 Os atletas.

HELENA COSTA 00:22:31 Também. Também toda a gente fala inglês. Mesmo miúda de 13 anos, era muito raro encontrar uma que não falasse inglês. Portanto foi facílimo nesse aspeto. Mas quando eu passo do Qatar para o Irão e já arranhava algumas palavras de árabe ou não falando, já conseguia interpretar muitas coisas que diziam. Eu pensei agora vou me safar um bocadinho melhor. Fui sozinha, sem equipa técnica e quando chego lá, o que eles falam em persa têm algumas palavras idênticas, mas com significados diferentes. Portanto, baralhou o sistema todo. O meu árabe não servia para nada e ninguém falava inglês, ninguém falava inglês. Só a minha time manager é que falava em inglês.

JORGE CORREIA 00:23:09 Como é que se faz isso? Como é que tu treinas uma equipa quando?

HELENA COSTA 00:23:12 Quando sei o que eu pensei não falar? Como é que eu faço isto?

JORGE CORREIA 00:23:14 Não ouvimos a mesma música, Não falamos a mesma língua.

HELENA COSTA 00:23:17 Eu não consigo explicar até hoje. Foi muito linguagem gestual, muito exemplificação de exercícios, Muito. No início ainda chamei minha TI Manager para me ajudar diretamente no treino, quase como intérprete, uma tradutora. Mas ela não percebe nada daquilo, não percebia nada de termos do treino e, portanto, era mais incomodativo do que auxílio. Por muito que ela tivesse auxiliado.

JORGE CORREIA 00:23:45 Portanto, tínhamos aqui uma outra coisa, uma outra barreira da linguagem que é tu não percebes nada deste métier. No fundo, falas a língua, mas não falas. A minha língua do futebol.

HELENA COSTA 00:23:54 Não é a minha e a língua do pessoal é universal. Sim, ela trabalhava na Federação, mas é trabalha e foi uma pessoa extraordinária, que me ajudou muitíssimo, até porque era a única com quem eu conseguia realmente comunicar também, mas super competente. Mas não era. Era da parte administrativa, era da parte mais funcional, não era do treino, não era uma linguagem do futebol e, portanto, não servia para para o meu auxílio. E tive que desenvolver outras ferramentas.

HELENA COSTA 00:24:23 E o mais engraçado é que nós acabámos por comunicar muito e já havia piadas que ele já havia uma interação com piadas, mesmo não falando absolutamente nada e elas não falando inglês. Fomos desenvolvendo e eu fui obrigada também a mais rapidamente saber os termos em persa. E a comunicação era excelente e a relação era brutal. Foi brutal.

JORGE CORREIA 00:24:48 Sabem daquelas perguntas? Aquelas palavras básicas? Lá está, chuta, remata, defende, cobre.

HELENA COSTA 00:24:54 Pressiona. Coisas desse género? Sim. E a partir daí a nossa linguagem foi, foi, foi melhorando e acabámos com piadas e com uma relação extraordinária e com vivências óptimas. Eu adorei o Irão.

JORGE CORREIA 00:25:07 Os resultados foram bons.

HELENA COSTA 00:25:08 Foram bons, mas a qualificação tivemos um azar no sorteio da qualificação para vá, vamos chamar o Europeu lá do sítio, não é o campeonato asiático. Calhou nos a Tailândia, que era um dos tubarões e só passavam uma. Portanto tivemos. Mas foi muito positivo. E eu ali não era só a selecionadora da equipa A, era também coordenadora de todas as outras seleções.

HELENA COSTA 00:25:29 Eu tinha um treino pelo menos todos os dias de qualquer seleção. Se fosse sub13, sub16, eles lá têm escalões diferentes da Europa. E foi muito interessante e sobretudo, o impacto que se pode deixar depois no país, que não foi só o Irão. Estava extremamente desenvolvido na altura, muito mais desenvolvido de Portugal. Muito, mais, muito mais mesmo.

JORGE CORREIA 00:25:49 Não tinha nada essa.

HELENA COSTA 00:25:50 Ideia, pois ninguém tinha. Mas porquê? É um talento.

JORGE CORREIA 00:25:53 Em que na na.

HELENA COSTA 00:25:55 No Nem era o conceito de treino, o conhecimento de treino não era, é muito inato. E eu noutro dia estava a falar com o António Simões, que também estava lá na altura com o Carlos Queiroz e com o Daniel Gaspar. E nós privamos e ele sentiu isso do lado masculino também, que há um talento inato.

JORGE CORREIA 00:26:14 Eles conhecem o jogo porque sim.

HELENA COSTA 00:26:16 Não, eles têm uma paixão por jogo incrível. Eu lembro me que na nossa Academia da Federação era ao lado do Estádio Nacional e, por exemplo, a final da Taça era da Taça de Clubes era jogado também no Estádio Nacional.

HELENA COSTA 00:26:31 A imagem do que acontece aqui e eles dormem à porta do estádio para ser dos primeiros a entrar. E lembro de estar a dar um treino às dez e qualquer coisa da manhã. Portanto, na academia, que era praticamente ao lado, o jogo da final da Taça ia ser às oito e tal da noite, as estradas iam ser cortadas, etc. Mas às dez e tal eu ouvia a Hola mexicana que o estádio já estava cheio. Uma coisa incrível e incrível eles vivem como ninguém. O jogo é uma paixão brutal pelo futebol, uma coisa incrível.

JORGE CORREIA 00:26:58 Olha, estavas a falar de aprender as palavras mínimas para conseguir dar alguma informação. Os jogadores ouvem alguma coisa dentro do campo, no meio de um estádio cheio de gente?

HELENA COSTA 00:27:08 Sim, no masculino é mais difícil. Quando os estádios estão cheios. No feminino não há isso muitas vezes, mas a comunicação praticamente. O treinador, não tem grande forma. Com um estádio completamente cheio de fazer a comunicação chegar no instante em que gosta. Depois faz passar por outras formas.

HELENA COSTA 00:27:25 E claro que a comunicação com os jogadores que estão mais próximos. Depois passa ou há pausas para hidratação e fala só há um, eventualmente um jogador lesionado e aproveita se. Mas no dia a dia, para um treinador com um estádio cheio, a comunicação não é fácil e há uns.

JORGE CORREIA 00:27:40 Jogadores lá dentro, normalmente naqueles 11. Há uns que fazem de treinador também lá dentro, que são o espelho do treinador.

HELENA COSTA 00:27:47 Sim, há uns com personalidade, com conhecimento, com liderança, sim, que são muito espelho.

JORGE CORREIA 00:27:54 O que é o que define um líder dentro do campo?

HELENA COSTA 00:27:58 A personalidade. Primeiro que tudo, mas sobretudo a forma como coloca a sua performance quase de forma, sem errar. Eu acho que há jogadores que são e jogadoras que são. Não digo perfeitas, mas há sempre coisas a melhorar, mas que são líderes por pelo exemplo, líderes pela personalidade. E são daquelas quando abrem a boca, depois toda a gente se cala para ouvir ou toda a gente respeita isso. São coisas muitas delas naturais, portanto, a maioria delas naturais.

JORGE CORREIA 00:28:32 E sente se dentro do balneário.

HELENA COSTA 00:28:33 Sim, sim, sim, sente. É a pergunta.

JORGE CORREIA 00:28:36 Difícil do dia. É também as vacas sagradas? Como é que é?

HELENA COSTA 00:28:39 Como assim?

JORGE CORREIA 00:28:40 Como é que. Como é que se lida com a vaca sagrada? Como é que se lida com aquele super jogador que às tantas entrou em declínio ou com aquele jogador que acha que é o dono daquilo tudo e que se calhar já está a ter um efeito. Eu vou.

HELENA COSTA 00:28:53 Eu vou cometer aqui provavelmente uma inconfidência. Eu acho que ela não me vai levar a mal. Eu vou até pegar numa jogadora que é muito conhecida em Portugal, a Carla Couto, que é provavelmente a melhor jogadora ou foi a melhor jogadora naquele tempo em que não havia o processo de formação e que agora acredito que daqui a uns tempos possamos falar de outras e já se começa a falar, felizmente. Mas a Carla, toda a gente dizia que não gostava de treinar, que que faltava muita treinos, que não era essa pessoa Do ponto de vista relacional, é extraordinária.

HELENA COSTA 00:29:27 Tem muita piada para quem a conhece, mas ela sabia que era realmente muito boa no campo e que fazia realmente a diferença. E eu, quando cheguei ao clube, toda a gente dizia isto cobras e lagartos. A verdade é que eu acho que aí também depende do treinador, não só na liderança. E aí coloco homens e mulheres. É tudo igual, não só na liderança, mas na capacidade de como é que eu hei de dizer cativar. E eu aprendi muito no Qatar relativamente a isso. Acho que houve um distanciamento muito grande entre a Helena que sai de Portugal, a Helena que chega ao Qatar e a Helena que volta a Portugal nesse sentido.

JORGE CORREIA 00:30:03 O que é que aprendeste?

HELENA COSTA 00:30:05 Aprendi coisas diferentes. Tenho que me adaptar claramente à cultura. E vou dar um exemplo. Eu no Qatar, no Qatar, e quando nasce tem logo à partida a educação paga. Tem, sei lá, água, luz paga pelo Estado. Tem tudo e mais alguma coisa. Tem os pais ricos, o miúdo quase. Quando nasce tem uma nanny, uma ama e um carro é um driver e portanto tem tudo o que querem e o que não querem é aquilo e é viver.

HELENA COSTA 00:30:42 Ou podem viver sem ter o espírito de sacrifício, porque não tem necessidade. Tem tudo, portanto tem tudo.

JORGE CORREIA 00:30:47 E aí aparece uma treinador que veio, uma treinadora que veio lá de Portugal.

HELENA COSTA 00:30:52 Sim, mas que tem que tem em contrarrelógio. O meu processo foi eu tinha que criar, criar o futebol feminino do país.

JORGE CORREIA 00:30:59 Não existia.

HELENA COSTA 00:31:00 Nada. Zero. Criar em meses, colocar a seleção no ranking FIFA em meses, porque havia a decisão do Mundial de 2022 e era obrigatório haver uma seleção feminina. Como em qualquer decisão de Mundial, haver uma seleção feminina no ranking FIFA.

JORGE CORREIA 00:31:17 Isso parece me um desafio gigantesco.

HELENA COSTA 00:31:19 Foi o pior. Não digo o trabalho mais difícil que eu tive na minha vida e duvido que tenha um tão difícil quanto este.

JORGE CORREIA 00:31:25 Onde é que encontraste as jogadoras?

HELENA COSTA 00:31:27 Eu andei a bater de porta a porta a elas pela paixão que algumas tinham pelo jogo. Criaram um torneio de futsal na faculdade. Eu soube disso. Fui.

JORGE CORREIA 00:31:37 Começaste lá a ver.

HELENA COSTA 00:31:38 Comecei lá e depois criei escola de futebol desde pequeninas, portanto criei a seleção sub13.

HELENA COSTA 00:31:46 A seleção A foi aquela mais emergente que tinha que acontecer no momento, Mas elas não conheciam o jogo, não sabiam nada, nada mesmo. O futsal delas era duas a atacar e duas a defender. Era assim que jogavam, mas divertiam se e tinham iniciativa. E eu acho que isso foi saudável e foi o que me ajudou a desenvolver o resto. Mas aí eu tive que as levar um bocadinho pelo coração, porque elas não precisam de nada. Não era o dinheiro que as faria. Como é que correr?

JORGE CORREIA 00:32:12 Como é que este desiste? O que é que lhes vendem?

HELENA COSTA 00:32:15 Por isso eu também ter mudado foi eu aproximar me delas, explicar lhes que realmente o impacto que elas poderiam ter no país e tiveram podia ser extraordinário, mas ao mesmo tempo, as famílias não queriam que elas se projetassem como pioneiras, não queriam que o nome estivesse envolvido na sendo as primeiras mulheres a jogar futebol. E aí tem muito a ver com a cultura. Não é com a religião, é com a cultura. E foi muito, muito, muito difícil.

HELENA COSTA 00:32:46 Tive que garantir que elas não eram fotografadas ou filmadas em alguns jogos para poderem representar a seleção nacional. E chegou a acontecer garantirem me a mim que isso não iria acontecer e eu chegar lá e ter câmaras. E foi o fim da macacada. Foi até capaz de sair agora um documentário sobre isso, porque nós reunimo nos no primeiro dia em que houve realmente o Mundial 2022. Estivemos a ver o nosso jogo, o nosso primeiro jogo que tem estas histórias todas. A primeira fotografia oficial tem sete jogadoras, porque quatro delas não podiam aparecer a ser fotografadas. Houve uma delas que perdeu o emprego por ter jogado. Tenho histórias incríveis. Uma que era filha do comentador mais respeitado de futebol masculino e ela estava já numa fase até mais adiantada. Ela era realmente muito boa jogadora, sobressaía das outras, jogava a avançada e ela disse me Eu vou estar em exames na faculdade e portanto eu não consigo estar todos os dias no estágio e dormir, sobretudo lá porque eu perco o meu pai não quer, eu perco ali exames e eu combinei com a equipa Okay, vamos abrir aqui uma exceção.

HELENA COSTA 00:34:00 Ela treina connosco, volta para casa, volta para a faculdade, volta a treinar connosco e no dia do jogo está connosco. Toda a gente concordou, portanto foi uma coisa aberta, quase a ajuda do público para não haver questões. Cá está quanto à liderança, diferenciação de comportamento, etc. E no dia do jogo, ela percebe que há câmeras à volta. Foi no estádio do Alçado, contra as Maldivas. As ganhámos 4 a 1 nesse jogo. E ela diz Eu não posso jogar, não pode jogar como para aí há duas horas e meia de jogo. Como assim não pode jogar? Meu pai não sonha que eu estou aqui. Portanto, ela não me tinha dito a verdade toda e estava a ser retraída em casa para não jogar. Naquela altura nós já tínhamos dado tudo à FIFA e aquilo era um jogo oficial que contava para o ranking. Não dá para.

JORGE CORREIA 00:34:47 Mudar?

HELENA COSTA 00:34:48 Dá. Mas os câmaras eram portugueses e eu conhecia os e portanto foi 1A1 pedir para ela não ser filmada. Não é fácil.

HELENA COSTA 00:34:59 Sendo avançado e ganhando 4 a 1, marcando quatro golos e fazendo uma assistência. O que acontece é que ela nunca mais jogou futebol. O pai proibiu a não de jogar futebol. Mas tenho muitas histórias destas. Tenho coisas que, sei lá, eu acho que às vezes nem é nem é imaginável na Europa que se possa passar no Irão foi o inverso de tudo. Muito desenvolvido, uma paixão tremenda, um orgulho por representar a seleção e as famílias. Ninguém rezava. E uma coisa que eu digo muitas vezes ninguém rezava. Eu, no Qatar, tive que me dar o tempo dos treinos para não coincidir com o pôr do sol, porque no por do sol também que eles fazem a última reza. Vivemos coisas muito engraçadas e eu tive na casa deles, delas a vivenciar o Ramadão quando o sol se põe. Tudo aquilo foi muito engraçado. Em equipa estivemos. Eu vivenciei isso no Irão, não tive que mudar nada, não tinha uma jogadora que.

JORGE CORREIA 00:35:56 Rezasse e as famílias apoiavam que estas miúdas.

HELENA COSTA 00:36:01 Viram aquilo e uma paixão enorme e loucura e loucura.

HELENA COSTA 00:36:07 E pelo que eu sinto continua a desenvolver se com as sanções económicas, que foi algo que não nos deixou. Nós recebemos dinheiro da FIFA e não podíamos utilizar porque não entrava sequer no país. E continua, continua por motivos políticos. Não tem nada a ver com elas. Mas também tive coisas. Eu tinha uma segurança do governo do Irão, que estava todos os dias connosco em estágio, fosse sub13, fosse sub16, fosse a seleção A e que ia connosco para fora. E o objectivo era fazer um relatório para para o Governo.

JORGE CORREIA 00:36:39 Sobre as coisas que tu fazias.

HELENA COSTA 00:36:40 Sobre o que eu fazia, sobre o comportamento delas, sobre tudo.

JORGE CORREIA 00:36:44 Tudo, portanto. Tinha a polícia secreta no fundo, e o adjunto tinha.

HELENA COSTA 00:36:48 E o mais engraçado é que depois aquilo, o ambiente era tão positivo que se fosse três, quatro vezes connosco, depois era nossa amiga e o governo sabia disso e trocava, mas depois acabava sempre por ser bem recebida e se sentir bem e trocava.

JORGE CORREIA 00:37:03 Portanto, Helena, tu vais para um país longe, Não dominas a língua.

JORGE CORREIA 00:37:09 Todavia, convences as famílias. Não falas uma palavra convence os câmaras de filmar no início, consegue se de alguma maneira conquistar o agente dos serviços secretos que lá está. Qual é o segredo?

HELENA COSTA 00:37:25 Essa é natural. Criar um bom ambiente e há pouco eu não terminei, mas acho que no Qatar cá está por ter que as levar pelo coração, por pela empatia, por criar uma proximidade gigante. Eu próprio mudei porque era uma pessoa muito mais nova do que elas todas, mesmo em Portugal e do que eles, porque também treinei uma equipa sénior masculina aqui. Era mais nova que todos e achava nessa altura que a forma como comunicava com alguma distância poderia ajudar também na liderança. E acho que agora é precisamente o contrário. É empatia e naturalidade. E é. Eu mudei por isso, por ter que as conquistar e levar pouco pelo coração. Mas depois eu também acho que sou muito assim e portanto, não é ser eu própria. Olha como.

JORGE CORREIA 00:38:15 É que se conquista o jogador tuga.

HELENA COSTA 00:38:18 Como outro, como outro.

JORGE CORREIA 00:38:19 Qualquer.

HELENA COSTA 00:38:20 Sim, cá está dizendo a verdade. Auxiliando com. Com feedbacks que são úteis. Sendo justo. Depende do papel. Pode se criar uma grande proximidade sendo Chief Scout ou assistente do diretor técnico, como foi no Watford, e criei muita proximidade com os jogadores no sentido de realmente ser ouvida, auxiliar em alguns conselhos, porque percebia a ideia do treinador e que estava ali uma certa distância, que um passo que fosse poderia auxiliá lo a ele e ajudava a equipa. Pequenas coisas, mas sendo justa, sendo também concisa nos comportamentos e sendo eu próprio.

JORGE CORREIA 00:39:00 Há bocadinho falavas dos dos Catar e que nascem, no fundo com contudo, com o mundo aos seus pés um bocadinho. Os jogadores profissionais em Portugal, no mundo, na Europa são um bocadinho assim. Quer dizer, a partir dos 16, 17, 18 anos começam a ganhar rios de dinheiro. Têm grandes opções? Sim. Não, não é um mito.

HELENA COSTA 00:39:19 Depende das sessões. Sim, claro.

JORGE CORREIA 00:39:21 Os jogadores de topo topo todo que esses sim.

HELENA COSTA 00:39:24 Esse sim, Os outros não ganham estudo e têm que dar a perna entre aspas para se manter num nível alto. O problema é pensar se que por estar no Benfica, Sporting Porto Sub19 sub 23 já já é garantido que se vai ser profissional. E não é assim. Há um degrau.

JORGE CORREIA 00:39:43 Muito grande de entre esses sub19 e a equipa profissional.

HELENA COSTA 00:39:47 Nesses grandes clubes. Sim, é provavelmente a saída mais simples para esses jogadores. Há de ser outros clubes de primeira divisão, segunda divisão, mas outros clubes que não os três grandes ou os quatro grandes, os cinco que se queira considerar. Há um degrau grande e.

JORGE CORREIA 00:40:01 Quando vejo clubes ingleses, vejo muitas vezes os treinadores a irem buscar jogadores de 16, 17 anos e a dar ali oportunidades em minutos. Eles também têm muitos jogos. Cá parece me menos bom, Em bom rigor, se olhar agora para aqui, para o Porto, Benfica, Sporting já já começa a acontecer?

HELENA COSTA 00:40:16 Não. Cá em Portugal é o contrário.

JORGE CORREIA 00:40:18 É o contrário.

HELENA COSTA 00:40:19 Nós somos capazes de ser dos dos países.

HELENA COSTA 00:40:25 Vou tirar uma Holanda. Eventualmente uma Dinamarca. Mas somos os países que apostamos mais em jovens.

JORGE CORREIA 00:40:35 Estamos a aproveitá los bem.

HELENA COSTA 00:40:38 Estamos a exportá los muito bem porque os aproveitámos bem ou porque os formámos muito bem.

JORGE CORREIA 00:40:43 Sim, e portanto, quando eles dão nas vistas num clube de topo, numa Liga dos Campeões, vão para inglês, vão se embora? Nem sempre.

HELENA COSTA 00:40:50 Mas isto os clubes portugueses dependem disso. Os clubes portugueses têm que vender, não sobrevivem sem vendas. E Portugal está a fazer isso muito bem. Nós temos talento, muito. Temos um processo de formação que é muito bom também. Obviamente, como tudo pode melhorar em algumas coisas, mas somos olhados como um país exportador precisamente por isso. e depois a capacidade de ter um conhecimento de jogo que permite até os mais pequeninos. Não é que em muitos campeonatos não são olhados como são um bocadinho personas não gratas. Aquele perfil de jogador típico não vai de encontro a isso. Mas os pequeninos sobressaem porque pensam mais rápido, porque têm o processo de formação, porque têm o lado técnico, porque têm uma capacidade de adaptação, de comunicação.

HELENA COSTA 00:41:33 Eu tenho colegas italianos, não é preciso ir mais longe. Os espanhóis que comentam toda a gente em Portugal fala inglês. É impressionante. E se juntarmos a isso a capacidade de praticamente falar o português, não é já com o inglês e o espanhol sobrevive se em meio mundo. Portanto, tudo isto junto faz com que o jogador português seja apetecível.

JORGE CORREIA 00:41:52 Olha, nós estamos a exportar claramente agora até exportar treinadores. Treinador do Sporting. Amorim sai para Inglaterra. Não me interessa discutir os méritos de de qualidade técnica, porque estão à vista de todos, até para alguém como eu, que não percebe nada da bola. Mas gosto dele da maneira como, como, como ele comunica, como é que se está? Como é que os treinadores estão a comunicar em Portugal?

HELENA COSTA 00:42:17 Eu gosto muito da forma como o Ruben comunica. Eu, aliás, já disse isto na televisão várias vezes.

JORGE CORREIA 00:42:21 O que gostas nele?

HELENA COSTA 00:42:24 Eu posso olhar para a ideia do Ruben e eventualmente dizer assim eu mudava o A ou B ou C, a ideia de jogo ou concordar e sair.

HELENA COSTA 00:42:32 Mas o que eu acho que ele queria, e talvez aquilo que eu também acho é que disse há pouco que que me ajudou é a empatia e é a comunicação directa. E não precisa de ser aos berros. Pode ser uma coisa e ser muito justo e ser muito directo de uma forma. Agora só me lembro da palavra em inglês. Este ainda estou com o regresso de emigração. Muito educada. Não precisa de ser rude para se dizer algo directo que até seja desagradável do lado de lá ouvir. Mas eu acho que o Ruben tem essa forma que eu tenho muitas dúvidas que seja uma personagem. Parece me claramente que é muito natural dele ele ser assim e ganha muito com isso.

JORGE CORREIA 00:43:14 E agora vai para Inglaterra, sítio que tu conheces. O que é que ele precisa de fazer para ter sucesso?

HELENA COSTA 00:43:22 Eu não conheço a realidade por dentro de onde ele está vai para um contexto difícil. Assim como ele veio também para o Sporting e estava num contexto difícil. Essa é uma boa.

JORGE CORREIA 00:43:31 Notícia, uma má notícia.

HELENA COSTA 00:43:32 Ele gosta e é a questão.

HELENA COSTA 00:43:36 E vai para um sítio onde o impacto pode ser imediatamente visível. O estar num mau momento de Manchester United ou numa má organização a que muitos pontos de interrogação à volta do clube nesta altura. Se ele detetar o que é necessário na altura certa, eu acho que vai impactar rapidamente. E depois há outra coisa. Eu acho que a liderança que o United teve até há relativamente pouco tempo, as duas, três pessoas que passaram agora têm uma forma de ser, de estar, de comunicar, de empatia totalmente diferente. O que eu notei em Inglaterra é que os ingleses são e toda a gente diz que os alemães é que são muito frios, muito distantes, muito pragmáticos. Eles são regrados no trabalho, mas são as pessoas mais descontraídas com quem eu trabalhei até hoje.

JORGE CORREIA 00:44:25 É mais fácil trabalhar com os alemães do que com os ingleses.

HELENA COSTA 00:44:28 1000 vezes, 1000 vezes wow. Eles são muito conservadores, ingleses, muito conservadores no sentido Eu não estou a dizer isto de uma forma negativa. São formas diferentes. Eu, por exemplo, eu não posso ir a um jogo em que vá para um camarote, que é algo que pode acontecer.

HELENA COSTA 00:44:48 Se eu sou observadora de um clube, peço a entrada. Se for se calhar um scout, mandam me para a bancada. Se for um Chief scout já me mandam para um camarote. Eu não posso ir de ténis, nem que seja um tênis de marca x xpto que fiquem bem no outfit.

JORGE CORREIA 00:45:03 Portanto tens que ir classicamente vestida.

HELENA COSTA 00:45:06 Se um homem tem que ir de gravata é obrigatório coisas deste género. E quando falamos de jogo de sub 23, por exemplo, que já é considerado o processo de formação igual a pequenas coisas, muita formalidade, muito, muito conservadores, muito rigorosos nesse sentido, mas são super prático, super práticos. É fácil ver se um CEO no dia a dia de calças de ganga e ténis porque está lá para trabalhar, não interessa muito bem. Depois se há uma coisa, um jogo oficial, etc. E põe a.

JORGE CORREIA 00:45:36 Sua gravatinha.

HELENA COSTA 00:45:37 Ou não, com o seu blazer, a sua t shirt, os seus ténis com o fato é algo muito diferente. As culturas realmente têm coisas muito interessantes.

JORGE CORREIA 00:45:46 Olha, fala me do comentário televisivo Tu agora estás como comentador na televisão. Ouvimos te muitas vezes a explicar.

HELENA COSTA 00:45:52 Afinal trabalho muito. Não é.

HELENA COSTA 00:45:54 Trabalho de muitas horas não.

HELENA COSTA 00:45:56 Mas tenho estado muitas vezes o que eu adoro. Atenção, eu adoro, adoro. Se me perguntassem se eu ia fazer isto na vida, dizia que não, que nunca pensei O que é que tu gostas da função? Para já gosto do ambiente que se vive lá dentro.

JORGE CORREIA 00:46:12 A tribo de redacção. Tu já tu já quase és mais jornalista do que treinadora. Por este andar.

HELENA COSTA 00:46:17 Não, não.

HELENA COSTA 00:46:17 Não, não, treinador. Não me tiram a casca. Nunca, nunca, nunca. Mas gosto muito do ambiente que se vive na redacção. Cá está. Gosto das pessoas em si. Claro que os sítios são feitos pelas pessoas, mas adoro. Para mim, estar ali a ler um jogo é uma coisa naturalíssima. Não é como estar num café a falar com amigos, porque eu sei que estou a falar para pode ser milhares de pessoas, podem ser só centenas, pode ser uma, mas essa pessoa pode não perceber absolutamente nada de futebol.

HELENA COSTA 00:46:48 E eu tenho de ter a capacidade olhar para o jogo, comunicar para essa pessoa que não percebe nada de futebol, porque as que percebem vão me entender, as que não percebem e podem não me entender.

JORGE CORREIA 00:46:56 Então já descobri porque é que eu gosto de ti e porque eu consigo entender o futebol como tu lá estás. Tu estás.

HELENA COSTA 00:47:00 A ver um jogo, um sinal com auscultadores.

JORGE CORREIA 00:47:02 Dentro de uma cabine. Vê no ecrã como é que é.

HELENA COSTA 00:47:04 Se for ao vivo, estou no estádio. Depende, não é? Imaginamos.

JORGE CORREIA 00:47:08 Já te vi no relvado.

HELENA COSTA 00:47:09 Exacto, pronto. Mas isso são.

HELENA COSTA 00:47:11 Outros. Ainda por cima.

JORGE CORREIA 00:47:11 Fizeram uma maldade um dia que te puseram o jogador? Muito, muito, muito.

HELENA COSTA 00:47:14 Não foi um jogador. Foi um treinador que era muito grande.

HELENA COSTA 00:47:17 Nem cá está. Quer dizer, por.

JORGE CORREIA 00:47:18 Amor da santa.

HELENA COSTA 00:47:19 Então, mas eu não escolho os convidados.

HELENA COSTA 00:47:21 Não se importa sequer para ficar mais ou menos a nós.

HELENA COSTA 00:47:24 Foi antes do jogo do Porto.

JORGE CORREIA 00:47:26 E como é que é E qual é a sensação essa hora na relva?

HELENA COSTA 00:47:28 Adoro!

HELENA COSTA 00:47:29 Pois é, o meu sítio, não é? Mas nessa comunicação com os treinadores eu tive a capacidade, a possibilidade de estar com o treinador do que o treinador do Porto.

HELENA COSTA 00:47:39 Já me aconteceu também estar no Benfica e vai acontecer mais porque em principio irei para mais. E eu acho que isso seria muito bom se acontecesse também na nossa liga. Se os treinadores minutos antes do jogo pudessem estar connosco a falar, porque ali pelo menos o que eu sentia que é uma aproximação, depois a forma como se comunica também dizer ao treinador do Ophanimon Olha o Victor Bruno, já não está a ver. Nesta altura ele já está ali. Vá, abre lá o jogo E ele realmente abriu. Cá está.

HELENA COSTA 00:48:06 Explicou o que é que ia fazer.

HELENA COSTA 00:48:08 Claramente explicou até como é que ele ia anular a própria equipa que eu perguntei. Imagina que tu eras o Vitor Bruno, Como é que não levas a tua equipa? E ele se calhar não estava à espera desta pergunta. Mas muito genuinamente explicou o próprio Vitor Bruno. Nós. A pergunta foi mais ou menos do género os golos são todos praticamente do cruzamento daquele lado. Como é que tu trabalhaste isso? Ele explicou como é que ia implementar e obviamente que se calhar se fosse uma liga interna eles não abriam tanto o jogo.

HELENA COSTA 00:48:38 Mas era positivo haver.

JORGE CORREIA 00:48:40 Um jogo a seguir a uma segunda.

HELENA COSTA 00:48:41 Porque é o jogo.

HELENA COSTA 00:48:42 A seguir por toda a gente tem princípio, fala a mesma língua porque se calhar instantes antes ainda dava para adaptar aqui ou ali. Não tudo, claro, naturalmente, mas porque passa sempre uma informação. Mas era interessante haver uma comunicação mais próxima entre o adepto e o.

HELENA COSTA 00:48:55 Treinador e os jogadores.

JORGE CORREIA 00:48:56 Também, porque eu raramente ouço os jogadores a aparecerem, explicarem, a dizerem alguma coisa mais que não seja a banalidade do tentamos.

HELENA COSTA 00:49:04 Negar.

HELENA COSTA 00:49:04 Eu acho que as coisas estão a ficar um bocadinho diferentes. Podem melhorar, claro, mas eu acho que as coisas estão a ficar diferentes para melhor. O próprio jogador já não é só o jogador que vai lá e começa a ser um jogador com opinião. Não são todos. Há sempre os que os extinguem. Os mais velhos começam sempre a ter mais à vontade também para dizer algumas coisas que se calhar, se fossem mais novos e que precisassem do seu espaço não diriam. Acho que isto é normal, mas eu acho que estamos a melhorar também.

JORGE CORREIA 00:49:31 Na Liga portuguesa e que os jogadores e que tu tens debaixo.

HELENA COSTA 00:49:34 De olho não posso dizer não podes.

HELENA COSTA 00:49:36 Já não sei para onde é que vos vou. Estou aqui a trabalhar nas minhas coisas, mas quer dizer, não sei.

HELENA COSTA 00:49:42 Vou facilitar.

JORGE CORREIA 00:49:43 A vida. Nós já falamos dos avançados que marcam golos. Claro que nos fascinam, daqueles médios criativos que fazem todos os passes e que são absolutamente maravilhosos, até os desgraçados dos defesas quase desgraçados. Não, nunca falámos deles, nem dos defesas, nem dos nem dos Guarda-Redes. Só quando eles sofrem um frango e Crucifica o.

HELENA COSTA 00:50:00 Não, não. Olha, eu gosto. Gosto do Diego.

JORGE CORREIA 00:50:02 Costa. Tu não podes falar, mas eu posso.

HELENA COSTA 00:50:03 Não, eu posso dizer. Obviamente, eu gosto muito do Diego Costa. É um talento, sempre foi e não é de agora. Quem acompanhou o Diogo desde 16, 17.

JORGE CORREIA 00:50:12 E não é só como jogador da bola. Eu acho que ele.

HELENA COSTA 00:50:13 Tem.

HELENA COSTA 00:50:14 Sim, verdade.

HELENA COSTA 00:50:15 Coisas interessantes.

JORGE CORREIA 00:50:16 A defesa fala me dos defesas.

HELENA COSTA 00:50:18 Falo eu sou.

JORGE CORREIA 00:50:19 Aquilo. Os laterais estão sempre a correr para a frente e.

HELENA COSTA 00:50:21 Para trás, não sou? E os centrais.

JORGE CORREIA 00:50:23 Que.

HELENA COSTA 00:50:23 Para mim são os.

HELENA COSTA 00:50:24 Que pensam o jogo à frente, são os melhores, são esses que fazem toda a diferença e cá está que acompanham depois com a qualidade técnica, aquilo que pensam. E há muitos que estão a aparecer. Há muitos que vêm aí também das gerações atrás e sei que eu não vou falar porque são é o ouro.

HELENA COSTA 00:50:40 E assim interessam.

HELENA COSTA 00:50:41 Interessam, Mas, por exemplo, há muitos jogadores que estão agora com essa capacidade de construir o jogo desde traz as defesas centrais. Por exemplo, os laterais tanto atacam fora como dentro, que têm um conhecimento também que lhes permite uma capacidade técnica para além da parte física, que lhes permite estar sempre naquele vaivém permanente. E se é preciso trabalhar se e ter se também o lado inato. Portanto, há muita coisa valorizada.

JORGE CORREIA 00:51:04 Olha, estamos na final do Campeonato do Mundo em que tu lidera as equipa de Portugal.

JORGE CORREIA 00:51:09 Falta meia hora para o início do jogo. O que é que tu dirias aos jogadores ou aos jogadores? Eu tenho uma aposta. Eu acho que as mulheres vão ser campeões do mundo mais depressa que os homens portugueses. Acho, acho. Acho que é um feeling, É uma sensação.

HELENA COSTA 00:51:22 Por quê?

JORGE CORREIA 00:51:23 Porque a curva de evolução está a ser. Está a ser tão, tão óbvia, que eu agora.

HELENA COSTA 00:51:27 Estou a fazer perguntas.

JORGE CORREIA 00:51:28 Não estás a subverter isto? Já estás a aprender. O que é que se diz? Do que é que se fala?

HELENA COSTA 00:51:37 Do que.

HELENA COSTA 00:51:38 Viveram? Eu até ir puxar um bocadinho. Eu acho que isso deve ser um ponto. Nunca estive, não é? Mas acho que isso deve ser um ponto tão emocional que às vezes é preciso é resfriar um bocadinho, não chamar ainda mais emoções. Porque há naturalmente, os que estão completamente à vontade e aos outros que estão mais nervosos. E se nós fomos uma carga emocional nesse momento, ainda vai subverter depois o rendimento, não é? Portanto, aquele ponto ideal de stress é aquele que permite ter um bom nível de performance, mas também não eleva o stress ao ponto de não nos deixar fazer nada e, portanto, jogar com as emoções no sentido de disfrutem.

HELENA COSTA 00:52:16 Foi para aqui que trabalhámos. É fazer lembrar tudo o que passaram e, portanto, é só isso. E acho que eu própria, se estivesse nesse lado, iria falar disso, porque eu própria penso Quer dizer, eu já estive nos pelados. Eu dava aulas de educação física às 08h00 em Alcanena, dava treinos no Benfica às cinco e tal, dava treinos no no 1 de Dezembro em Sintra, das 09h30 até às 11h15 e no outro dia a seguir já estava em Alcanena a dar aulas às 08h00. Eu fiz isto anos sem fio e portanto no pelado no fim de semana. Autocarros imensas, coisas que foram sacrifícios que estas gerações agora provavelmente nem nem pensam que isso existiu. E agora estou a falar do feminino especificamente e portanto, e a pensar em todas as gerações que trabalharam para chegar ali e todo o processo em que elas tiveram também e.

JORGE CORREIA 00:53:10 Aproveitando ao contrário, o teu francês e o teu conhecimento da cultura francesa, o que é que se diria a seleção francesa depois de ter perdido com Portugal? Com o golo do Éder, que eles nem nunca sonharam na vida?

HELENA COSTA 00:53:23 Temos pena.

HELENA COSTA 00:53:26 Não foi um momento. Acho que foi. Foi bom para todos. Foi o conto de fadas por ser o Éder. E muito honestamente, eu já disse isto várias vezes. Quando saiu a convocatória, o Éder foi se calhar o patinho feio, o momento esperado no sentido de haver outras possibilidades. E todos nós pensámos não nesse sentido, porque ele mereceu, por estar lá, mas pensámos que eventualmente não fosse utilizado ou que fosse claramente o menos utilizado.

JORGE CORREIA 00:53:52 E quando Fernando Santos decide que que ele vai lá para dentro, Tu pensas está uma coisa.

HELENA COSTA 00:53:56 Que todos pensámos e todos pensámos venha o primeiro que que diga que não. Todos pensámos, mas a verdade é que resultou e o Fernando Santos foi o maior. O Hélder foi o maior e essa seleção demos muita alegria. Deus queira que se repita. Seja masculino, seja feminino, seja futsal, seja futebol de praia, todos contam e são todos de Portugal.

JORGE CORREIA 00:54:20 O futebol é feito de momentos inesquecíveis. O golo do Éder em 2016 será sempre lembrado não só porque foi decisivo, mas porque tem dentro de si a essência do desporto.

JORGE CORREIA 00:54:32 Um instante de pura superação e glória. Hoje os jovens jogadores são mais talentosos, rápidos e exuberantes. O jogo é cada vez mais intenso e cada atleta carrega inúmeras missões dentro do campo. Defender, atacar, apoiar os colegas e tomar decisões em segundos. Mas isso não acontece sozinho e por artes mágicas. O desporto coletivo, como o futebol é uma escola de comunicação, cooperação e sincronismo. Dentro de campo, os atletas falam entre si palavras, gestos, olhares, algumas palavras agrestes até e fora dele há lições de comunicação em cada jogada, em cada estratégia, em cada golo. Podemos aprender muito com isto, sobre liderança, sobre poder que uma equipa pode ter e sobre como criar ligações mais fortes. Só lamento que os jogadores não falem mais vezes fora do campo a um mundo de sabedoria e experiência nas suas cabeças. E ouvi los poderia ensinar nos tanto mais sobre o jogo e sobre nós mesmos.

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