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Andreas Kisser: Precisamos falar da morte
MPEG3•בית הפרקים
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Guitarrista do Sepultura fala da turnê de despedida da banda, sobre a perda da esposa Patrícia e da relação com o álcool Após quatro décadas na estrada, a lendária banda Sepultura está se preparando para encerrar sua jornada. Marcada por ser a primeira grande banda brasileira a conquistar reconhecimento internacional (bem antes de Anitta, eles já colecionavam prêmios no MTV Music Awards), o grupo se despedirá dos fãs em grande estilo. O renomado guitarrista e músico globalmente aclamado, Andreas Kisser, compartilhou detalhes dessa despedida em uma conversa emocionante com o Trip FM. [IMAGE=https://revistatrip.uol.com.br/upload/2024/02/65c66db35aad3/andreas-kisser-sepultura-rock-artista-tripfm-mh.jpg; CREDITS=Bob Wolfenson; LEGEND=A banda Sepultura; ALT_TEXT=Sepultura] "Não foram um ou dois os sinais para encerrar o Sepultura'', conta Andreas. Num papo sobre o ato de "deixar morrer", ele refletiu sobre a série de eventos que o conduziram a esse momento. Um dos principais foi a perda de sua esposa de mais de 30 anos, Patrícia Kisser, que faleceu em 2022 após uma batalha contra o câncer. "Não foram apenas um ou dois os motivos para encerrar o Sepultura. O confronto com a finitude, a perda da minha esposa Patrícia e todo o trabalho subsequente para abordar a questão da morte no Brasil foram alguns deles. Senti-me totalmente despreparado, como cidadão, para lidar com isso: despreparado para dialogar com médicos, compreender os cuidados paliativos e diversos outros aspectos. Por que não se discute eutanásia no Brasil? Estou aprendendo tanto com a morte da Patrícia quanto aprendi em sua vida. Um filme sem fim não faz sentido. E por que não encarar o fim do Sepultura dessa mesma maneira? Só temos a ganhar com essa abordagem", diz. Andreas também falou sobre sua decisão de abandonar o consumo de álcool, sobre o São Paulo Futebol Clube, do movimento Matricia, em homenagem à esposa, deu recomendações de bandas e muito mais. A entrevista completa está disponível aqui no site da Trip e no Spotify. Trip FM. Você sempre esteve aberto a colaborar com qualquer artista. Já recebeu críticas do universo do metal por isso? Andreas Kisser. Conhecer os artistas por trás da música, com todas as suas fraquezas, me ensinou muito sobre essa profissão, que não é fácil. O artista sobe no palco de peito aberto, numa posição muito frágil. É preciso estar preparado, saber quem você é. É a essência da música. Toquei com a Ivete no ano passado e ouvi muitas críticas. Fiquei surpreso que em 2024 as pessoas ainda estejam presas a esse tipo de limite. Tem sido difícil a decisão de encerrar o Sepultura? Não foram um ou dois os sinais para encerrar o Sepultura. O contato com a finitude, a passagem da minha esposa Patrícia e todo o trabalho que se seguiu para conseguir falar sobre morte aqui no Brasil foi um desses sinais. Me senti muito despreparada como um cidadão ao passar por isso: despreparado para falar com médicos, para entender os cuidados paliativos e muitos outros aspectos. Por que não se fala de eutanásia no Brasil? De testamento vital? Fiquei sabendo de coisas que me deixaram chocado. Não existe cuidado paliativo na maioria dos hospitais do país. Não faz parte nem do currículo na faculdade. Eu estou aprendendo com a morte da Patrícia tanto quanto aprendi em vida com ela. A maneira como ela encarou, como deixou as coisas preparadas. Quando aconteceu todo mundo sabia o que ela queria. Precisamos falar de morte, morte é limite e limite é educação. Um filme sem fim não tem sentido. Tem que ter um encerramento, só há sentido com fim. E por que não encarar o fim do Sepultura dessa forma? A gente só tem a ganhar. O que mais você aprendeu com a Patrícia? A não acreditar muito nesse mito da guitarra, do palco, na forma como as pessoas enxergam você. É perigoso esquecer de onde você veio. É importante sempre lembrar do motivo de estar aqui, de quando eu estava ensaiando no quarto de casa imaginando viajar, tocar com o Ozzy. Conquistei todos os meus sonhos e muito mais. Eu amo guitarra, eu amo música. Outro novo ciclo que se inaugurou na sua vida foi na relação com o álcool? A melhor coisa que fiz na minha vida foi ter largado o álcool. Além da saúde, de desinchar, de economizar dinheiro, o mundo é outro. Para mim o mundo antes era bar. Entrava no aeroporto, bar; no avião, cerveja; futebol, vamos beber; churrasco no fim de semana, beber; tô puto, vou tomar uma; tô feliz, vou tomar uma. O álcool fazia todas as minhas escolhas: qual restaurante, quais férias, tudo. Eu não fui na Disney com a minha família porque não tinha cerveja. E não percebia. A Patrícia falava que eu era um Playmobil com a latinha encaixada na mão. E nunca fui alcoólatra de beber todo dia, mas tudo tinha o álcool. A partir do momento em que essa ficha caiu, percebi que eu era um imbecil. Saiu uma nuvem negra de cima de mim. Comecei a meditar, fazer pilates, estudar mais violão, tomar banho de gelo. Enfrentar uma pandemia, perder minha esposa, reconstruir a minha vida com meus filhos… Tudo foi melhor sem o álcool.
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Guitarrista do Sepultura fala da turnê de despedida da banda, sobre a perda da esposa Patrícia e da relação com o álcool Após quatro décadas na estrada, a lendária banda Sepultura está se preparando para encerrar sua jornada. Marcada por ser a primeira grande banda brasileira a conquistar reconhecimento internacional (bem antes de Anitta, eles já colecionavam prêmios no MTV Music Awards), o grupo se despedirá dos fãs em grande estilo. O renomado guitarrista e músico globalmente aclamado, Andreas Kisser, compartilhou detalhes dessa despedida em uma conversa emocionante com o Trip FM. [IMAGE=https://revistatrip.uol.com.br/upload/2024/02/65c66db35aad3/andreas-kisser-sepultura-rock-artista-tripfm-mh.jpg; CREDITS=Bob Wolfenson; LEGEND=A banda Sepultura; ALT_TEXT=Sepultura] "Não foram um ou dois os sinais para encerrar o Sepultura'', conta Andreas. Num papo sobre o ato de "deixar morrer", ele refletiu sobre a série de eventos que o conduziram a esse momento. Um dos principais foi a perda de sua esposa de mais de 30 anos, Patrícia Kisser, que faleceu em 2022 após uma batalha contra o câncer. "Não foram apenas um ou dois os motivos para encerrar o Sepultura. O confronto com a finitude, a perda da minha esposa Patrícia e todo o trabalho subsequente para abordar a questão da morte no Brasil foram alguns deles. Senti-me totalmente despreparado, como cidadão, para lidar com isso: despreparado para dialogar com médicos, compreender os cuidados paliativos e diversos outros aspectos. Por que não se discute eutanásia no Brasil? Estou aprendendo tanto com a morte da Patrícia quanto aprendi em sua vida. Um filme sem fim não faz sentido. E por que não encarar o fim do Sepultura dessa mesma maneira? Só temos a ganhar com essa abordagem", diz. Andreas também falou sobre sua decisão de abandonar o consumo de álcool, sobre o São Paulo Futebol Clube, do movimento Matricia, em homenagem à esposa, deu recomendações de bandas e muito mais. A entrevista completa está disponível aqui no site da Trip e no Spotify. Trip FM. Você sempre esteve aberto a colaborar com qualquer artista. Já recebeu críticas do universo do metal por isso? Andreas Kisser. Conhecer os artistas por trás da música, com todas as suas fraquezas, me ensinou muito sobre essa profissão, que não é fácil. O artista sobe no palco de peito aberto, numa posição muito frágil. É preciso estar preparado, saber quem você é. É a essência da música. Toquei com a Ivete no ano passado e ouvi muitas críticas. Fiquei surpreso que em 2024 as pessoas ainda estejam presas a esse tipo de limite. Tem sido difícil a decisão de encerrar o Sepultura? Não foram um ou dois os sinais para encerrar o Sepultura. O contato com a finitude, a passagem da minha esposa Patrícia e todo o trabalho que se seguiu para conseguir falar sobre morte aqui no Brasil foi um desses sinais. Me senti muito despreparada como um cidadão ao passar por isso: despreparado para falar com médicos, para entender os cuidados paliativos e muitos outros aspectos. Por que não se fala de eutanásia no Brasil? De testamento vital? Fiquei sabendo de coisas que me deixaram chocado. Não existe cuidado paliativo na maioria dos hospitais do país. Não faz parte nem do currículo na faculdade. Eu estou aprendendo com a morte da Patrícia tanto quanto aprendi em vida com ela. A maneira como ela encarou, como deixou as coisas preparadas. Quando aconteceu todo mundo sabia o que ela queria. Precisamos falar de morte, morte é limite e limite é educação. Um filme sem fim não tem sentido. Tem que ter um encerramento, só há sentido com fim. E por que não encarar o fim do Sepultura dessa forma? A gente só tem a ganhar. O que mais você aprendeu com a Patrícia? A não acreditar muito nesse mito da guitarra, do palco, na forma como as pessoas enxergam você. É perigoso esquecer de onde você veio. É importante sempre lembrar do motivo de estar aqui, de quando eu estava ensaiando no quarto de casa imaginando viajar, tocar com o Ozzy. Conquistei todos os meus sonhos e muito mais. Eu amo guitarra, eu amo música. Outro novo ciclo que se inaugurou na sua vida foi na relação com o álcool? A melhor coisa que fiz na minha vida foi ter largado o álcool. Além da saúde, de desinchar, de economizar dinheiro, o mundo é outro. Para mim o mundo antes era bar. Entrava no aeroporto, bar; no avião, cerveja; futebol, vamos beber; churrasco no fim de semana, beber; tô puto, vou tomar uma; tô feliz, vou tomar uma. O álcool fazia todas as minhas escolhas: qual restaurante, quais férias, tudo. Eu não fui na Disney com a minha família porque não tinha cerveja. E não percebia. A Patrícia falava que eu era um Playmobil com a latinha encaixada na mão. E nunca fui alcoólatra de beber todo dia, mas tudo tinha o álcool. A partir do momento em que essa ficha caiu, percebi que eu era um imbecil. Saiu uma nuvem negra de cima de mim. Comecei a meditar, fazer pilates, estudar mais violão, tomar banho de gelo. Enfrentar uma pandemia, perder minha esposa, reconstruir a minha vida com meus filhos… Tudo foi melhor sem o álcool.
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